O grego Kavafis (1863-1933) é ainda leitura recente para mim. É, no entanto, impossível não se encantar com o trato que ele dá a temas filosóficos (até agora meus preferidos, em que se encaixa o poema aqui traduzido), além dos chamados temas “históricos” e “sensuais”. É considerado o poeta mais importante da tradição grega moderna, tendo nos deixado 154 poemas de altíssima qualidade.
Suas traduções para o inglês são abundantes. Para a tradução abaixo utilizei bastante a versão bilíngue da Oxford World Classics, que tem uma edição dedicada inteiramente ao Kavafis, traduzido por Evangelos Sachperoglou com bastante competência [1]. Me ajudou nas horas em que meu grego moderno cambaleou. Mas apesar disso, mesmo no grego não é um texto de difícil compreensão.
Tenho que confessar também que na minha própria produção o Kavafis tem me mostrado caminhos de uma poesia mais contemplativa e espiritual, o que me aproxima um pouco da produção do nosso escamândrico Bernardo e da poesia mística. Pode ser uma fase bastante distinta que me causa expectativa, e que mais cedo ou mais tarde aparecerá também por aqui.
Por fim, de acordo com a já citada edição da Oxford, o poema intitulado em grego Σοφοι δε προσιόντων pertence à fase de produção contida entre os anos de 1905-1915 do autor.
[1] CAVAFY, C. P. The Collected Poems, translated by Evangelos Sachperoglou, edited by Anthony Hirst and with an introduction by Peter Mackridge (Oxford: Oxford University Press, 2007)
os sábios
pois os deuses compreendem coisas futuras,
homens coisas presentes e
sábios coisas ainda por vir.
Filóstrato, Vida de Apolônio de Tiana, viii, 7
homens atentam-se a coisas presentes
atentam-se ao porvir os deuses
tão só senhores de todo saber
do porvir os sábios apreendem
o iminente
seu ouvir
por vezes
quando em fundo contemplar
é incomodado
o som secreto
de eventos do porvir os alcança
e eles se atentam
reverentes
enquanto na rua
fora
nada escutam os povos
Vinicius Ferreira Barth