Bohdan Zadura (Puławy, 1945) debutou, como muitos outros importantes poetas poloneses, no ano de 1968 – o início da chamada Nowa Fala (Nova Onda) da literatura polonesa. Sua poesia, a princípio, utilizava-se de formas clássicas, em especial o soneto mas, a partir dos anos 1980, abandonou essas tendências e deixou-se influenciar por poetas mais contemporâneos, notadamente os norte-americanos da assim chamada Escola de Nova Iorque. Suas temáticas, porém, mantiveram-se mais ou menos constantes, incidindo sobre a vida dos indivíduos e sua relação com a vida social, cultural e política, refletindo especialmente sobre os termos linguísticos dessa relação.
Selecionei alguns poemas retirados de dois de suas antologias mais recentes (Kaszel w lipcu, de 2000; e Ptasia Grypa, de 2002).
Luciano R. Mendes
* * *
ANTYGONA Z PRIŠTINY
Sarajewo było raz (w ogniu) i drugi
I wystarczy
Minęło jak wszystko
Chciałbym żyć raz
a długo
żeby zdążyć
zapomnieć
raz
a dobrze
Twoje ciało
jak ciało Polinejka
Tylko choć myli mi się
Kreon Charon i Chronos
chyba nic już nie jest
możliwe
Antígona de Pristina
Sarajevo esteve uma vez (em chamas) e uma segunda
e basta
Passou, como tudo
Eu queria viver só uma vez
mas o bastante
para conseguir
esquecer
de uma vez
por todas
Teu corpo
como o corpo de Polinices
Só que apesar de eu confundir
Creonte, Caronte e Cronos
pode ser que nada seja
possível
Fashion TV
Czy gimnastyka szwedzka jest zdrowa Nie mówię że nie jest
choć przysłowiowy polot Szwedów daje do myślenia
a fizyczna tężyzna? łzy napływają do oczu na wspomnienie
masowych pokazów gimnastycznych na powiatowych spartakiadach
dziś gdy w Fashion Television oglądam karnawał w Rio
znów przed oczami mi stają nasze białe zapadnięte klatki
i na trybunach w kretonowych sukienkach w kolorowe kwiatki
nasze matki do wtóru sekretarzom bijące nam brawo
i ciastowate uda dziewczyn, spodenek sprany granat
w których coś się rozpycha nie zawsze kiedy trzeba
i wstyd że się jest punkcikiem w jakiejś figurze na trawie a z nieba
żadna kurtyna deszczu na wstyd ten nie opada
i choć jesteś ofermą nikt cię zwolnić nie chce
od przysiadów przewrotów wymachów ramion i przebieżek
no bo gdyby zwalniano ofermy to powiedzmy szczerze
wuefista by tutaj tylko ćwiczył z wuefistką
Fashion TV
Será que ginástica sueca é saudável Eu não disse que não
apesar de que a proverbial inventividade sueca dá o que pensar
mas e a boa forma? lágrimas escorrem dos olhos de lembrar
as massivas demonstrações de ginástica dos jogos estudantis municipais
hoje quando assisto ao carnaval do Rio na Fashion Television
mais uma vez pairam diante de meus olhos nossos peitos magros e brancos
e nas arquibancadas com vestidos de bramante com flores coloridas
nossas mães acompanhadas dos secretários nos aplaudindo
as celulites nas coxas das moças, shorts azul marinho
nos quais algo nem sempre estica na hora certa
e se envergonha de ser um pontinho na grama e no céu
nenhuma cortina de chuva cai sobre essa vergonha
e apesar de você ser um inútil ninguém quer te liberar
dos agachamentos, saltos mortais, swings, flexões e corridas
não, pois se os que foram afastados por inaptidão falarem francamente
só os professores e professoras de educação física treinariam
Za pięć dwunasta
śmierć daje większe możliwości wyboru
dlatego pytamy na co umarł a nie
na co się urodził
Cinco para meia-noite
a morte dá mais possibilidades de escolha
por isso perguntamos do que foi que morreu e não
do que foi que nasceu
Myślałem o samobójstwie
Wczoraj że jestem za młody
Dzisiaj że jestem za stary
Eu pensava em suicídio
Ontem, que era muito jovem
Hoje, que sou velho demais
(poemas de Bohdan Zadura, trad. de Luciano R. Mendes)