Luciano R. Mendes (Curitiba, 1986) é formado em medicina e divide seu tempo entre o trabalho como médico e a faculdade de letras polonesas na UFPR. Estuda e traduz uma série de idiomas do leste europeu e recentemente foi para Varsóvia estudar ídiche. Por um breve período editou a revista-blog Sinuosa. Atualmente, além de pesquisar a poesia do Holocausto, escreve poesia – em português e ídiche.
* * *
insônia
Tento em vão
dormir-
me assombram
coisas
que nunca vivi:
arame farpado
pão racionado
veneno de piolho.
Pesadelos babélicos
em que sangram
minhas mãos cansadas
do cheiro amargo
de amêndoas e de meus irmãos
vestidos de fumaça.
No escuro
abro os olhos
cegos de noite
um gosto seco
nos dedos trêmulos
acordo
coberto de cinzas.
§
meia-vida
depois de meia-vida
metade de tudo
foi perdido
mas o resto
persiste
como todo.
depois de meia-vida
meia-morte
é a vida inteira.
§
reminiscência