Autor dos livros Nódoa (7Letras, 2015) e A poesia agora é o que me resta (Patuá, 2013) e do minilivro Blasfêmias (7Letras, 2015), Diego Callazans nasceu em 1982 em Ilhéus, mas mora em Aracaju desde os cinco anos. Tem poemas publicados em diversas revistas literárias.
[mingau]
e, pela beira,
a colher veleja.
a boreste topa
tormenta frouxa.
– antes fosse sopa.
desce mal.
– aguenta:
para mais não temos.
dá sustância o tanto
que sustente as cordas.
– fecha a conta.
– bota pra lavar
mais tarde.
– pois que a pia aguarde.
(já não há prazer
na janta.)
*
na mão não canta o mistério.
com o dito jamais se deita.
não há com o que se o ferre.
a carne o sabe, não o porta.
deixemos que passe alheio
o que mais dentro ressoa.
não vem da areia esse gesto
que diz ao vento: “disperse”.
pra deuses não nos fizeram.
a águia, se ousarmos, desce.
*
[infimidade]
fui por noite enferma
a gemer manhãs,
desnudo de unguentos,
mil senões por ar.
fui pelas galés
a coser monções,
expurgo da lei,
o pender por norte.
fui por mata escusa
a fremir fragatas,
descido dos astros,
por bem só meus ais.