Harlem Renaissance por André Caramuru Aubert, pt. IΙ

"Nightlife", por Archibald John Motley Jr.
“Nightlife”, por Archibald John Motley Jr.

JAMES WELDON JOHNSON

James Weldon Johnson (1871-1938), logrou o paradoxo de, sendo ateu, produzir uma poesia extremamente carregada da religiosidade (e da musicalidade) dos negros do sul. Ele foi também um pioneiro no rompimento de barreiras do universo branco: foi cônsul, nomeado por Theodore Roosevelt, na Venezuela e na Nicarágua, e o primeiro negro a ser aceito como professor na Universidade de Nova York.

The color sergeant
(On an incident at the Battle of San Juan Hill)

Under a burning tropic sun,
With comrades around him lying,
A trooper of the sable Tenth
Lay wounded, bleeding, dying.

First in the charge up the fort-crowned hill,
His company’s guidon bearing,
He had rushed where the leaden hail fell fast,
Not death nor danger fearing.

He fell in the front where the fight grew fierce,
Still faithful in life’s last labor;
Black though his skin, yet his heart as true
As the steel of his blood-stained saber.

And while the battle around him rolled,
Like the roar of a sullen breaker,
He closed his eyes on the bloody scene,
And presented arms to his Maker.

There he lay, without honor or rank,
But, still, in a grim-like beauty;
Despised of men for his humble race,
Yet true, in death, to his duty.

 O sargento de cor
(Sobre um fato ocorrido na Batalha da Colina de San Juan)

Sob um fervente sol tropical,
Com camaradas caindo em volta dele,
Um soldado do Décimo dos Búfalos
Jaz ferido, sangrando, morrendo.

Primeiro na carga contra o forte da colina,
A bandeira de sua companhia levando,
Ele avançou para onde a metralha caía rápida,
Sem a morte nem o perigo temendo.

Ele caiu no front onde a luta foi mais feroz,
Sempre confiante no serviço derradeiro;
Negro em sua pele, e em seu coração tão verdadeiro
quanto o aço de seu sabre, de sangue manchado.

E enquanto a batalha em volta dele prosseguia,
Como o rugido de quem rompe com o mau humor,
Ele fechou seus olhos diante da sangrenta cena,
E apresentou armas ao seu Criador.

Ali ele jaz, sem honras ou patente,
Mas, ainda assim, em uma inflexível beleza do ser:
Desprezado pelos homens por sua humilde raça,
Mas dedicado, na morte, ao seu dever.

§

ANNE SPENCER

A poesia da sulista Anne Spencer (1882-1975), mostra, com frequência, uma forte marca feminista, mas que está longe de ser simplista ou panfletária. Considerada como um dos maiores talentos da Harlem Renaissance, ela foi também uma agregadora, e sua casa foi um dos principais pontos de encontro dos membros do movimento.

Lady, Lady

Lady, Lady, I saw your face,
Dark as night withholding a star…
The chisel fell, or it might have been
You had borne so long the yoke of men.

Lady, Lady, I saw your hands,
Twisted, awry, like crumpled roots,
Bleached poor white in a sudsy tub,
Wrinkled and drawn from your rub-a-dub.

Lady, Lady, I saw your heart,
And altared there in its darksome place
Were the tongues of flame the ancient knew,
Where the good God sits to spangle through.

Mulher, Mulher

Mulher, mulher, eu vi o seu rosto,
Negro como noite escondendo uma estrela…
Caiu o cinzel, ou poderia ter caído
Você carregou por tanto tempo a canga dos homens.

Mulher, mulher, eu vi as suas mãos,
Deformadas, tortas, como uma explosão de raízes,
O pobre branco lavado num tanque ensaboado,
Enrugado e arrancado da sua canção de ninar.

Mulher, mulher, eu vi o seu coração,
E o pus naquele lugar escuro do altar
Eram as línguas de fogo que os antigos sabiam,
Onde o bom Deus se senta para espalhar centelhas.

§

CLAUDE McKAY

O jamaicano radicado em Nova York Claude McKay (1889-1948) foi um dos principais inspiradores do Harlem Renaissance e um dos poetas mais claramente identificados com a questão racial e a ancestralidade africana.

The tropics in New York

Bananas ripe and green, and ginger-root,
Cocoa in pods and alligator pears,
And tangerines and mangoes and grape fruit,
Fit for the highest prize at parish fairs,

Set in window, bringing memories
Of fruit-trees laden by low-singing rills,
And dewy dawns, and mystical blue skies
In benediction over the nun-like hills.

My eyes grew dim, and I could no more gaze;
A wave of longing through my body swept,
And, hungry for the old, familiar ways,
I turned aside and bowed my head and wept.

Os trópicos em Nova York

Bananas suculentas e verdes, e gengibre,
Cacau em cachos e abacates,
E tangerinas e mangas e toranjas,
Feitos para pegar preço alto nas feiras paroquiais,

Apoiado na janela, buscando lembranças
De árvores frutíferas trazidas por riachos serenos,
E manhãs brilhantes, e místicos céus azuis
Abençoando as colinas que pareciam freiras.

Meus olhos se turvaram, e eu não pude mais olhar;
Uma onda de saudade varreu meu corpo,
E, faminto por caminhos antigos, familiares,
Eu me voltei para o lado, abaixei minha cabeça e chorei.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s