Diana Junkes é crítica literária e professora de literatura na Universidade Federal de São Carlos. Dedica-se ao estudo da poesia brasileira contemporânea e, em especial, à obra de Haroldo de Campos. Publica regularmente artigos e capítulos de livros, voltados para os estudos de teoria e crítica de poesia. Em 2013, publicou As Razões da Máquina Antropofágica: poesia e sincronia em Haroldo de Campos (Editora da UNESP). Foi Visiting Fellow nas universidades de Yale (2012) e Illinois (2010).
* * *
vãos
“os cupins se apoderaram da biblioteca
ouço o seu áfono rumor […]”
Haroldo de Campos
os cupins
assolam
o corpo
deserto
lânguidos
ocupam
os poros
os livros
gritam
um silêncio
desumano
ausência
de odores
britadeira
da memória
o corpo
está
repleto
(os cupins)
copulam
docemente
§
grafite para dizer adeus
nas paredes
o corpo arrisca
um último rasgo
na tinta amanhecida
a pele
o chão
o teu
não
um pouco de vermelho
um pouco de azul
cinza ocre devaneio
arquivos e espinhos
a noite em grandes tragos
§
dezembro
“se eu disser que o desejo é eternidade
porque o instante arde interminável
deverias crer?”
hilda hilst
o desejo
irrompe
à noite
absoluto
na madeira envelhecida
dois corpos descobrem-se:
espelhos
incertezas e estrelas
nus e desprotegidos
no irrepetível
leito da urgência
lentamente
os navios de dentro
redescobrem
sua algaravia
a chegada dos
incontornáveis
acorda de seu
sono profundo