Três Poemas do Tu e do Eu, de Carl Jóhan Jensen
Carl Johan Jensen (n. 2 de dezembro de 1957 em Tórshavn, capital do arquipélago das Feroés) é há mais de um quarto de século uma das personalidades mais atuantes da cultura feroesa seja como poeta, jornalista, ficcionista, articulista, crítico literário e tradutor. Além disso, atua como tradutor. Foi agraciado com o prêmio feroês de literatura em seu país em três ocasiões (1989, 2006 e 2015). Foi indicado cinco vezes ao prêmio de literatura do Conselho Nórdico. Obras de Carl Jóhan já foram traduzidas e publicadas em livros, coletâneas e revistas na Dinamarca, na Noruega, na Suécia, na Islândia, nos Países Baixos, na Alemanha, nos EUA e agora no Brasil. A poesia de Carl Jóhan Jensen é do tipo que lança um desafio ao leitor: decifra-me ou te devoro. Não é a poesia palatável dos poemas no ônibus ou no metrô, mas sim linguagem em convulsão que faz lembrar da cerimônia iniciática enfrentada por Óðinn, a divindade-mor da antiga religião nórdica, e que o levou a “conhecer” ou “inventar” as runas, as quais depois compartilhou com as outras divindades e demais habitantes do universo nórdico: os homens, “gente oculta” (huldufólk) e os trolls. Mais do que poesia, é ποίησις, na qual o poeta traduz o não-ser para que seja. Se Carl Jóhan fosse filósofo de ofício, talvez sua máxima fosse: “Digo, escrevo, logo há”. Carl Jóhan Jensen irá participar no dia 12 de novembro da Presença Nórdica na Feira do Livro de Porto Alegre, ocasião em que será lançada o herbário poético bilíngue Nona Manhã, publicado pela parceria editorial Moinhos+Sagarana até onde se saiba a primeira obra de autor feroês, seja em verso ou em prosa, traduzida diretamente para o português. Os três poemas aqui publicados foram extraídas de Nona Manhã.
Luciano Dutra (Viamão/RS, 1973-, naturalizado islandês) é bacharel em língua e literatura islandesa (2007) e mestrando em estudos de tradução pela Universidade da Islândia. Além de literatura islandesa e nórdica contemporânea, traduz as sagas, obras únicas de prosa de ficção compiladas na Idade Média por autores anônimos da Islândia. Em 2014, fundou em Reykjavík a Sagarana forlag, microeditora multilíngue especializada na publicação de literatura em tradução entre as línguas nórdicas e o português. Mantém a página Um Poema Nórdico ao Dia (facebook.com/nordrsudr).
* * *
Eu
E vês a folha
que oscila por um átimo
no ar agitado
sobre as cinzas
em brasa? —
Eg
Og sært tú blaðið
sum ørstutt blakast
í giddandi luft
yvir glóðandi
eimi? —
§
Tu
tu és a mão que alivia
e a chuva que liberta
tu és lua e estrela
saibro sob meus pés
tu és oceano suspirando
e a palavra que será
Tú
tú ert lógvin sum lygnir
og regnið sum loysir
tú ert máni og stjørna
steinspjað við fót mín
tú ert hafið sum andar
og orðið sum blívur
§
Bem-me-quer
és o mistério da neve que para
e és também a terra
a pele exótica e o dorso da mão
outra vez vindo do nada
Gloymmegei
tú ert fannaslit á gátum
og mold ert tú við
fremmand húð og lógvi
uppaftur úr ongum
Um comentário sobre “Poesia Nórdica| Três Poemas do Tu e do Eu, de Carl Jóhan Jensen, por Luciano Dutra”