Patricia Laura Figueiredo (pat lau) entre São Paulo, onde nasceu e se dedicou à poesia e ao teatro desde cedo, e Paris, onde mora desde 1990, amadureceu seus poemas numa vida dedicada a tornar o poema uma experiência essencial. Publicou o seu primeiro livro de poesias, Poemas Sem Nome pela editora Ibis Libris e seu segundo No Ritmo da Agulhas, em março de 2015 pela editora Patuá. Participou de várias antologias, no Brasil e na Alemanha e também em diversas revistas digitais de literatura e poesia. Seu terceiro livro de poemas foi publicado pela Editora Dasch em 2016: Poemas Bebês.
***
circo
no circo dos animais tristes
o mar é um cemitério
onde esqueletos de índios guerreiros
e seus cabelos
amarrados em placas de concreto
bóiam
mais e mais todo dia
no burlesco na melancolia
os corvos podem agora voar
que a terra volte a ser a terra
nas sandálias de um imigrante
num punhal num penhasco
jazz e surrealismo
de novo aos nossos pés
monk e seus 46 baseados
tudo é grito
dos gregos ao monólogo
tudo é cadência
dicção (a primeira das delicadezas)
se fazer compreender
e a mais bela entre elas
o silêncio
diabos saem das poltronas
como no tempo de don juan
moliére e corneille
abrem-se as cortinas
les filles dans le ciel
cavalos como os de forman
se um estrangeiro chega
é preciso que ele se venda
se um surdo fala
ele tem que calar
colagens dadaístas
de moisés a dalai lama
torpor e suas vacas negras
morrer de melancolia
partir
porque somos loucos
porque somos sós
e eles são tão numerosos
§
sair
sair do país
como se sai
de um buraco
músculos flácidos
dedos inchados
sair falando baixo
riscar o muro
com o sangue
coagulado
pedra por pedra
empurrar a terra
de volta pro buraco
cobrir com mato
o ar esgotado
sair bem rápido
ofegante e machucado
livre e desconfortável
sair envergonhado
*
Perfeito.
Fiquei assim…inebriada por palavras, extasiada em mim, a alma Perfeito mais que Perfeito.