Poesia nórdica| Einar Már Guðmunsson, por Luciano Dutra

Foto: Gassi

Einar Már Gudmundsson (n. 18 de setembro 1954 em Reykjavík, capital da Islândia) é romancista, poeta e ensaísta. Estreou na literatura em 1980 com um volume de poemas e, desde então, já publicou mais de vinte obras. Teve seus livros traduzidos em mais de trinta idiomas. Anjos do Universo (Englar alheimsins), publicado também no Brasil (trad. de Luciano Dutra, São Paulo, Hedra, 2013) foi agraciado com o Prêmio Nórdico de Literatura em 1995, concedido pela mesma Academia do Prêmio Nobel. Um filme de longa metragem homônimo baseado no romance foi produzido pelo cineasta islandês Friðrik Thór Friðriksson.

Luciano Dutra (n. 6 de novembro de 1973 em Viamão/RS) é bacharel em língua e literatura islandesa (2007) e mestrando em estudos de tradução pela Universidade da Islândia. Além de literatura islandesa e nórdica contemporânea, traduz as sagas, obras únicas de prosa de ficção compiladas na Idade Média por autores anônimos da Islândia. Em 2014, fundou em Reykjavík a Sagarana forlag, editora multilíngue especializada na publicação de literatura em tradução entre as línguas nórdicas e o português. Mantém desde 2016 a página Um Poema Nórdico ao Dia (facebook.com/nordrsudr), que traz diariamente poemas de autores de todos os países nórdicos, a maioria deles até agora inéditos em português, sempre em tradução direta dos idiomas originais.

* * *

 HOMERO, O CONTADOR DE HISTÓRIAS

Numa tarde pesada de chuva,
num navio de um sonho que andou pelo mundo,
o contador de histórias Homero aportou em Reykjavík.
Saindo do cais
ele pegou um táxi que o conduziu
por ruas cinzentas de chuva
passando por casas tristonhas.

Numa esquina o contador de histórias Homero se virou
para o motorista e disse:
“E pensar
que aqui nessa modorra
cinzenta de chuva
vive uma nação de contadores de histórias!”
“Essa é exatamente a razão”, o motorista respondeu,
“nunca se quer mais
ouvir uma boa história
do que quando as gotas da chuva
golpeiam os vidros das janelas”

SAGNAÞULURINN HÓMER

Eitt regnþungt síðdegi,
á skipi úr viðförlum draumi,
kom sagnaþulurinn Hómer til Reykjavíkur.
Hann gekk frá hafnarbakkanum
og tók leigubíl sem ók með hann
eftir regngráum götum
þar sem dapurleg hús liðu hjá.

Við gatnamót sneri sagnaþulurinn Hómer
sér að bílstjóranum og sagði:
„Hvernig er hægt að ímynda sér
að hér í þessu regngráa
tilbreytingarleysi búi söguþjóð?“
„Það er einmitt ástæðan,“ svaraði bílstjórinn,
„aldrei langar mann jafn mikið
að heyra góða sögu og þegar droparnir
lemja rúðurnar.“

§

A TRIBUNA DO DESTINO

Não venha me falar em
países grandes e países pequenos,
cu de Judas, fim do mundo, periferia.

Vivemos numa esfera; o centro
está bem debaixo dos teus pés
e muda de lugar, seguindo-
te aonde quer que vás.

*

Eis ali o país
em que os continentes se correspondem
em sua busca de silêncio e seixos.

Considera a geleira,
vê como ela perambula no azul
como urso polar em andança pelo mundo.

Portas se abrem nos sonhos
e a escuridão flui
feito lágrimas sono afora.

*

Eis ali o país
onde o tempo cai
como um jornal que escorre pela escotilha da correspondência
mas não há assinante algum,
nem espaço algum,
apenas um abismo
onde as estrelas brilham.

Ao afundarmos
no pantanal da noite
puxamos os próprios cabelos.

*

A Via Láctea
é uma rua num vilarejo,
o destino, uma rede
lançada sobre as casas,
brindamos
com profundidades pelágicas entre nós.

As auroras boreais
ardem no beco.

*

Estou à espera de uma tonelada de sentimentos.
Alguém me ajuda a descarregar?

RÆÐUPÚLT ÖRLAGANNA

Ekki tala um
stórar þjóðr og litlar þjóðir,
útkjálka, heimshorn og jaðra.

Þetta er hnöttur; miðjan
hvílir undir iljum þínum
og færist úr stað og eltir
þig hvert sem þú ferð.

*

Hér er landið
þar sem heimsálfurnar skrifast á
í leit sinni að þögn og grjóti.

Sjáðu jökulinn,
hvernig hann vappar um blámann
einsog ísbjörð á leið yfir heiminn.

Í draumnum opnast dyr
og myrkrið flæðir
sem tár gegnum svefninn.

*

Hér er landið
þar sem tíminn fellur
einsog dagblað í gegnum lúgu,
en það er einginn áskrifandi,
ekkert rúm,
aðeins hyldýpi
þar sem stjörnurnar glitra.

Þegar vi sökkvum
í fen næturinnar
drögum við okkur upp á hárinu.

*

Vetrarbrautin
er gata í litlu þorpi,

örlögin net
sem leggjast yfir húsin,
við skálum
með hafdjúpin á milli okkar.

Norðurljósin
loga við stíginn.

*

Ég á von á tonni of tilfinningum.
Vill einhver hjálpa mér að landa?

§

ESBOÇO DE POÉTICA

Talvez as palavras emerjam
do oceano
como salva-vidas.

Peixes e pássaros,
asas e caudas:
entre isso, o homem.

Quanto mais fundo mergulho
mais alto eu voo.

DRÖG AÐ SKÁLDSKAPARFRÆÐUM

Kannski koma orðin
upp úr hafinu
eins og lífsbjörgin.

Fiskar og fuglar,
vængir og sporðar:
þar á milli er maðurinn.

Því dýpra sem ég kafa
því hærra flýg ég.

§

A GURIA QUE AMASTE…

A revolução é como a guria que amaste um dia.
Achavas que ela também te amava
e que tu jamais iria amar nenhuma outra.
Mas um dia ela acabou contigo.
Tua tristeza foi incomensuravelmente profunda no vazio dos dias.
Hoje, passado tanto tempo, vês que ela nem era aquilo tudo
e não entendes como pudeste um dia
ter te apaixonado por ela.

Faz sentido, pois já não trazes mais no coração
a força magnética que te atraiu para ela…
pois a guria que amaste um dia
não é a guria que amaste
mas sim o anseio,
a busca que te fez partir,
não com o objetivo de encontrar
mas sim de buscar o que perdeste
para poder perder o que encontraste.

STELPAN SEM ÞÚ ELSKAÐIR …

Byltingin er einsog stelpan sem þú elskaðir einu sinni.
Þú hélst hú elskaði þig líka
og að þú myndir aldrei elska neina aðra.
En dag nokkurn sagði hún þér upp.
Sorg þín var ómælisdjúp í tómleika daganna.
Nú löngu síðar sérðu að það var ekkert varið í hana
og furðar þig á því að þú skulur nokkru sinni
hafa orðið ástfanginn af henni.

Og þó, ef segulkrafturinn sem dró þig að henni
er ekki lengur í hjarta þínu …
því stúlkan sem þú elskaðir einu sinni
er ekki stúlkan sem þú elskaðir,
heldur þráin,
leitin sem lagði af stað með þig,
ekki til að finna,
heldur leita að því sem þú týndir
til að geta týnt því sem þú fannst.

§

NÃO CONSIGO PARAR

não consigo parar
na esquina dos teus lábios
apesar de eles serem vermelhos
como as sinaleiras

ÉG GET EKKI STOPPAÐ

ég get ekki stoppað
við gatnamót vara þinna
þó þær séu rauðar
einsog götuljósin

Um comentário sobre “Poesia nórdica| Einar Már Guðmunsson, por Luciano Dutra

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s