all creation
endless
interpenetration
(John Cage)
Não me sinto à vontade para apresentar a história, o contexto e as interpretações filosóficas desta série de poemas atribuídos ao mestre K’uo-an Shih-Yuan (séc. XII, também conhecido como Kuoan Shiyuan, ou em japonês como Kakuan Shion), com as conhecidas pinturas de Tensho Shubun (1414-1463). Há uma série de comentários, paráfrases e traduções neste site, https://terebess.hu/english/oxindex.html, além de outras versões das pinturas.
Para não dizer que não disse nada, me parece importante que
Dito isso, vai abaixo uma relação poética com essa série.
guilherme gontijo flores
* * *
Dez imagens da vaquejada
Por Kuoan Shiyuan (séc. XII), com pinturas de Tenso Shubun (séc. XV)
A partir das traduções de Suzuki Daisetsu Teitarō, de Stanley Lombardo e de Catherine Despeux
1. Buscar o boi
numa busca por tudo entre capins
rios montes extravios infindos
sem força e ânimo onde encontrar
entre bordos cantares de cigarras
2. Achar o rastro
ribeira e árvore com tanto rastro
plantas de cheiro espesso adocicado
junto a montanhas vales e ninhos
nem mesmo céu esconde seu focinho
3. Olhar o boi
em ramos papa-figo entoa entoa
sol morno salgueiral e vento brota
ali sozinho boi encurralado
cabeça chifres quem os põe num quadro?
4. Pegar o boi
com todo empenho capturá-lo boi
incontrolável e forte e feroz
porém prossegue ainda monte acima
evanescência entre vale e bruma
5. Domar o boi
está na mão está o laço a corda
não vai se desprender em meio a pó
bem vaquejado já retorna manso
e segue do lado sem contenção
6. Montar o boi
suave monta o boi e ruma ao lar
e por neblina some som de flauta
solta cantiga trina de alegria
inexprimível que só se adivinha
7. Largar o boi
alcançar nesse dorso a choupana
o boi não há agora se descansa
em sol vermelho a pino sobre sonho
com corda e laço largados ao chão
8. Além do boi
corda laço homem boi tudo nada
ideia não penetra azul de abóbada
neve jamais suporta forno em brasa
ali unir-se a mestres patriarcas
9. Tornar à fonte
tornar à fonte origem sem afã
no lar e só sentado na cabana
surdo cego pro mundo exterior
rio corrente enrubescer de flor
10. Entrar na aldeia
descalço e desnudo entrar pela aldeia
sorrindo imundo em meio a lama e terra
sem poder imortal e sem feitiço
ensina árvores secas a florir