LEILA DANZIGER é Artista plástica, poeta e professora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) desde 2006, pesquisadora (CNPq e Faperj).
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OZ NA CINELÂNDIA
No dia em que comemorava
vinte e cinco anos
meu pai perdeu
seu pai.
………………………….Na manhã
em que faria noventa
e sete no jornal
a manchete –
Amos Oz, Israeli Literary Giant, Dies at 79
e não
…………….não há nexo algum
apenas relutância
em aceitar
a morte –
ao anoitecer
da sexta-feira
rezo
……………de pé
numa livraria
onde entro ao acaso
e leio um poema
de Yehuda Amichai
sobre seu pai
que rezava
…………….imóvel, obrigando Deus a oscilar
…………….como junco e rezar a meu pai
que tenho certeza
não rezava
como os personagens de Oz
tampouco rezam
ao acordar
às 5 da manhã
vestem-se com a camisa azul dos pioneiros
fazem rondas e rondas
recebem o vento do deserto
abraçam os próprios ombros
…………….como se sentissem sempre frio
cravam as sandálias na terra
e as vezes
se balançam
como o junco
ou
como as palmeiras
transplantadas
ao Brasil onde Oz esteve
três ou quatro vezes –
caminhou no Aterro? na Cinelândia?
sentou-se no Amarelinho?
talvez
próximo à mesa
em que seis monges
almoçavam em julho
ou agosto
o que me recordo
agora
neste último shabat do ano
em que os jornais noticiam –
Amós Oz morreu
sem
a paz.
Rio de janeiro, dezembro de 2018
Gostei! Transcrevi hoje, em RUBIN EDITORES.