Isabella Martino nasceu em São Paulo, 1988, é poeta e pesquisadora, formada em Comunicação (ESPM-SP) e Artes Cênicas (Escola Superior de Artes Célia Helena – SP), atualmente cursa mestrado em Literatura e Teoria Literária na PUC-SP. Organiza e faz a mediação do Clube de Poesia Contemporânea na Biblioteca Mário de Andrade (SP). Trabalha ao redor de temas como memória, silêncio, morte, testemunho e fotografia.
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Aquela que venta
para Ismar Tirelli Neto
I.
e no entanto a grande janela imóvel
ela a encara
corpo como pêndulo
um preparo para o vento
ela sabe como se navega
ela domina
cada um dos pontos
os mínimos desvios
tornam-se cada vez maiores
ela encara a janela imóvel
ela encara a cortina intacta de organza branca
um véu de mármore sobre seus olhos
toda espera venta
e no entanto apenas a abelha
o bater violento contra a vidraça
estrondos a zumbir
a saída
se dará pelos cabelos
um movimento
o sutil balançar de um dos fios
a comprovação
uma brisa que se abre
fresta nos olhos
II.
a face diante o espelho
os olhos treinados no escuro
os ângulos agudos esfumaçam
todo pesar une silêncios
de uma cor só
pensa nos que virão
alguém ainda sentirá
alguém ainda sentirá
duas almas partiram-se ali
é preciso um testemunho
um pássaro qualquer
os pedaços que restam da estante
os descascos da parede
os estilhaços da última xícara azul
tudo apontará
ela existiu
ela esteve aqui
III.
o café se alastra sobre a mesa
basta o início de uma treva
para que outras se derramem
o turvo se faz aos olhos
seria apenas o caso de uma espera?
soletra os bafejos que esquentam a demora
tudo tão próximo e desconhecido
cada silhueta
se suficiente interrogada
delata uma ausência
cada feito no mundo
arrebenta uma sombra muda
a saída se dará pela espera
não
a saída se dará pelos olhos de um animal noturno
a saída se dará pelos olhos de um animal noturno
enquanto espera reconhecer o dia
algo faz fresta na janela
um feixo atravessa seco a sua garganta
é pela luz que se dará a voz:
olá
eu estava mesmo
a sua espera.
adorei, foi um presente para nós que te amamos, parabens
É pelo que a palavra não diz
É pela espera
E pelo silêncio
que se fez
a poeta
(Lindo, Isabella!)