Natasha Felix: Considerações sobre a higiene íntima – performance e tradução

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Considerações sobre a Higiene Íntima
é a mistura entre poemas do livro Use o Alicate Agora (ed. Macondo, 2018), de Natasha Felix, e o beat instrumental Black Skinhead, de Kanye West.
      Apresentada pela primeira vez no Macrofonia (São Paulo), a performance já passou por saraus e festas, como a Joga a PPK na Mesa e o Festival ELA (Santos).
      Agora, em parceria com o músico Barulhista e a agenciachaos, ela existe também em vídeo-poema, trazendo a interssecção entre a literatura, a dança, o audiovisual e o hip hop.
Apresentamos na escamandro além do vídeo-poema, duas traduções para o poema que deu origem à performance, uma inglês de Adi Gold, e uma espanhol de Sergio Ernesto Ríos.
*
Considerações sobre a Higiene Íntima

nunca conheci quem tivesse cabeça limpa
aliás os poucos que conheci
e talvez tivessem cabeça limpa
prestavam menos do que suspeitavam

sempre preferi aqueles cheios de bichos
escândalos baldeando de orelha a orelha

quem quebra copos
quem sabe o erro
toma para si o erro
segura escova gargareja
não cospe

testemunha perfeita do crime perfeito
quem sabe o erro assim
me inspira muita confiança mesmo

(reconhecer quem não tem cabeça limpa
alimentá-los, ser boa para eles)

olhei o tapete do banheiro sem medo dessa vez
todo um ecossistema lá
quem acreditaria?

ácaros mofo manchas de vinho
os meus joelhos nele
lembra?

os cotovelos no vaso sanitário a sua
língua entre as bandas da minha bunda
a gente ria feito duas cabras
era feriado ou algo assim
você atrasado pra uma festa ou algo assim
o azulejo português ou algo assim
quem acreditaria?
o fim do mundo ali vivendo entre
animaizinhos minúsculos lembretes
manchas impossíveis
lá bem ali

ácaro, mofo, manchas de vinho
eu nunca conheci quem tivesse cabeça limpa (x2)

eu saio do banheiro cada vez mais suja
cada vez mais suja (x4)

penso que esquecer é fácil, então eu esqueço.

ácaro, mofo, manchas de vinho
os meus joelhos nele
azulejos, o vazo sanitário, a sua língua
ácaro, mofo, eu nunca conheci
eu nunca conheci quem tivesse cabeça limpa
ácaro, mofo, manchas de vinho

olha, você pode até ser um homem piedoso
só eu não sou piedosa.

On personal hygiene
tradução Adi Gold 

nobody I ever knew had a clean head
and the few I knew 
who maybe did 
were not as great as they thought

I’ve always preferred heads crawling with creatures
(scandals stretching from ear to ear) 
those who break cups 
who can tell a mistake
take the mistake for themselves 
grasp the toothbrush gargle
don’t spit 

a perfect witness to the perfect crime
those who know the mistake 
make me trust them

(recognize those without a clean 
head feed them, be kind to them)

I looked at the bath mat now fearless
a whole ecocystem there. 
who would believe it? 

mites mold wine stains 
my knees on it 
remember?

elbows on the toilet your
tongue in my ass 
we laughed like two goats
it was a holiday or something
you were late to a party or something 
the portuguese tiles or something 
who would believe it? 

the end of the world there among
miniscule creatures reminders
impossible stains
there, right there 

mites mold wine stains 
nobody I ever knew had a clean head (x2)

I get out of the shower dirtier and dirtier 
dirtier and dirtier (x4)

I think forgetting is easy and so I forget

mites mold wine stains 
my knees on it
tiles, toilet, your tongue
mites mold nobody I ever knew
nobody I ever knew had a clean head
mites mold wine stains 

look, you might even be a rightous man
I’m the one who isn’t rightous 

Consideraciones sobre la higiene íntima
tradução Sergio Ernesto Ríos

Nunca conocí a alguien que tuviera la cabeza limpia
además a los pocos que conocí
y tal vez tuvieran la cabeza limpia
ofrecían menos de lo que sospechaban

siempre preferí a aquellos repletos de alimañas
escándalos pasando de oreja a oreja

quien rompe vasos
quien sabe el error
toma para sí el error
toma el cepillo cepilla hace gárgaras
no escupe

testimonio perfecto del crimen perfecto
quien sabe el error entonces
me inspira mucha confianza realmente

(reconocer a quien no tiene la cabeza limpia
alimentarlos, ser buena con ellos)

miré el tapete del baño sin miedo por esta vez t
odo un ecosistema allí
¿quién lo creería?
ácaros moho manchas de vino
mis rodillas sobre él
¿recuerdas?

los codos sobre la taza del baño y tu
lengua entre los costados de mi culo
la gente reía vuelta loca
era feriado o algo así
tu atrasado para una fiesta o algo así
el azulejo portugués o algo así
¿quién lo creería?
el fin del mundo ahí viviendo entre
animalitos minúsculos recordatorios
manchas imposibles
allí, justo ahí

ácaro, moho, manchas de vino
nunca conocí a alguien que tuviera la cabeza limpia
salgo del baño cada vez más sucia
cada vez más sucia

pienso que olvidar es fácil, entonces olvido.

ácaro, moho, manchas de vino
mis rodillas sobre él
azulejos, la taza del baño, tu lengua
ácaro, moho, nunca conocí nunca conocí
a alguien que tuviera la cabeza limpia
ácaro, moho, manchas de vino
mira, hasta puedes ser un hombre piadoso
sólo yo no soy piadosa

*

FICHA TÉCNICA
 
direção: chaos prod. musical: barulhista poema: natasha felix performance: gabriel antonio mariano estilo: pedro bala e zé mariano
A música-poema também pode ouvir o poema no Spotify.
*

Um comentário sobre “Natasha Felix: Considerações sobre a higiene íntima – performance e tradução

  1. Descobri você nesta pandemia, poeta. Um facho de oxigênio raro em meio à infestação de desumanidades.

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