
Laís Reis (1988-2020). Nasceu em São Bernardo do Campo. Formada em Letras, Português e Latim Clássico, pelas Universidades de São Paulo e Coimbra. Participou da Cooperativa da Invenção: Poesia e Tecnologia (2017) e do Curso Livre de Preparação de Escritores (2019), ambos na Casa das Rosas em São Paulo.
* * *
1.
*Você morre*
Quando que não morre?
Lucky Strike Duchampignon pronto para refletir
entre um smoke e um strike que a poesia não salva o
mundo
mas salva
o minuto.
2. [poema de Marcus Cardoso, publicado no livro Todo poeta mente sinceramente: vinte e poucos poemas mal escritos (edição experimartesanal, 2016) que encontra-se como vídeopoema em parceria de Laís, tendo sido exibido e premiado na Desvairada de Poesia em 2017 e postado na revista Vício Velho em 2018)
eu quero a explosão, a antítese, a esquizofrenia desenfreada que dilata e retorce toda essa visão quadrada e empobrecida que nos é empurrada goela a baixo. eu quero toda a paleta de cores misturadas, sem nenhum sentido, cheia de incongruências e erros de estética e moda. eu quero subverter o belo até que o feio seja aplaudido de pé e ovacionado, e faça lágrimas caírem por ele. eu quero o sol na noite e a lua no dia. eu quero um jantar romântico no meio de um tiroteio, quero acender uma vela e rezar pra mim mesmo, quero subir tão alto até chegar embaixo novamente. e quero não saber de tudo e gozar do prazer de não opinar. na verdade, quero opinar sobre todos os assuntos, até mesmo os que eu não tenho o menor conhecimento, e depois pintar nas paredes da humanidade o inverso do que eu disse. eu quero escrever livros sem palavra alguma, e gritar silêncios no meio de sessões de cinema. eu quero abrir o corpo e acreditar que em vez de ossos e vísceras, na verdade somos formados de poemas e confusões. e eu quero, ao mesmo tempo, o contrário de tudo isso que escrevi aqui. por que querer não é poder. na verdade, no meu universo tosco e em formação interminável, o Querer pega o Poder pelo colarinho e o esmurra até ele concordar em me ajudar. o meu Querer é foda.
3.
Se não podemos nos apoiar no ar pra evitar uma queda, por que a culpa seria do ar?
Se a queda é inevitável, que ao menos aproveitemos a experiência do corpo solto no ar
Um percurso estritamente reto é sempre de se desconfiar
tipos retos
não tropeçam
incapazes de alcançar
o chão
4.
como dentes-de-leões
que morrem no soluço do vento
se me desfaço
em pedaços
saiba que não é
para me fragilizar
mas multiplicar
Que triste! Meus pêsames a família e amigos.
Do que ela faleceu? COVID?