ÁGUA
eu continuo estática à beira-mar
aguardando o seu retorno
as ondas não quebram na praia –
quebram em mim
não há mais espumas
é tudo um lago plácido
você é um barco suspenso
na água
um vislumbre…
o mar em nossos olhos
§
MIRAGEM
nunca me senti radiante e reluzente
como o sol perante o deserto
porém já me senti árida e seca
um vazio enorme me ocupando
uma poeira constante cegando meus olhos
minha boca rachada por falta de ternura
e saliva – miragem, desejo e delírio
§
devoro sua presença
me alimento do seu líquido
percorro espaços
conheço toda sua geografia
seu corpo é uma paisagem
utópica
me ajoelho diante de você
e junto na palma de minhas mãos
o seu sexo
recebo-o como quem segura
a hóstia consagrada
dissolvo em minha boca
e fecho os olhos em comoção
o sexo
é também um estado de graça
a poeta anda em falso
se move devagar
como quem absorve
versos suspensos
no ar
questiona como atravessar
o isolamento ou adiar
a saudade
calcula a distância da falta
e tenta se manter serena
observa o silêncio que atravessa o momento
“nada mais será como antes”
outra poeta nos fala
exala o cheiro da náusea
desses novos tempos
me corto
no espinho da rosa
que brotou no asfalto
respiro fundo:
invoco o amor
e arte para nos salvar
§
como quem come um prato quente
com calma engulo suas poemas
me queimo
a língua
o corpo inteiro
suas poemas-brasas
me deixam em vermelho-vivo
escorre entre as pernas
o sangue
o gozo
de se parir
uma poema
também
obrigada pelo espaço, Nina & Escamandro ❤