
pálpebra abrindo um pouco
humano nasce um rio
um olho-d’água olheiro
cabeça nascedouro
ou manadeiro fonte
que cresce prolifera
gera – mãe-d’água etc.
e pálpebra fechando
ou estalada estanque
assim é que ele morre
algo exalando afora
um delta boqueirão
barra estuário foz
boca de rio etc.
se não minguar na seca
se não morrer à míngua
sob a devastação
mas nesse fim jamais
termina a velha mina
se arranja terra adentro
vira tudo que vira
nome de nimbo névoa
lago laguna mar
e nesse fim jamais
se chega assim completo
– um rio é de vapor
um ano quase inteiro
saindo do seu leito
pássaro céu acima
é bicho humano um rio
e quando dá no fim
um nome dele ainda
será talvez entrada
nós fomos oito nestes
quase onze anos de estrada
entre xanto e escamandro
é pouco quase nada
como qualquer rio
que aqui e ali deságua
dando nos imprevistos
batizando mistérios
um rio também nada
dentro do corpo alheio
que seja vida além de tudo