Ezequiel Zaidenwerg (1981-), por Lubi Prates

photo

Ezequiel Zaidenwerg nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1981. Como poeta, tem publicado os livros: Doxa (Vox, 2007), La lírica está muerta (Vox, 2011) e Sinsentidos comunes (Bajolaluna, 2015), e também atua como tradutor. Vive em Nova Iorque.

O poema “La revolución no va a ser por internet” dialoga com a canção “The revolution will not be televised”, de Gil Scott-Heron. Na tradução “A revolução não acontecerá pela internet” priorizou-se o uso de expressões que se ajustassem melhor à cultura brasileira.

 

lubi prates

* * *

ps: você pode conferir mais sobre a poesia de ezequiel zaidenwerg clicando aqui.

 

* * *

 

LA REVOLUCIÓN NO VA A SER POR INTERNET (CÓVER DE GIL SCOTT-HERON)

No te vas a poder quedar en casa, amigo.
No vas a poder desactivar el roaming ni colgarte al Wi-Fi del vecino.
No vas a poder colgarte jugando al Candy Crush,
ni mirando las fotos de gatitos en Facebook,
porque la revolución no va a ser por internet.

La revolución no va a ser por internet.

La revolución no se va a ver con filtros de Snapchat o de Instagram,
en blanco y negro vintage o predeciblemente sólo en blanco.
La revolución no va ser por drone, ni se va a organizar en la deep web,
ni va a estallar cuando se filtre el sex tape de Donald Trump, Marine Le Pen y Putin
gozando como chanchos con las manos de Perón restauradas
con nail art colorinche y germicida en gel.

La revolución no va a ser por internet.

La revolución no va a salir en exclusiva en Netflix, producida por Tom Hanks, dirigida por Oliver Stone y protagonizada por Gael García Bernal, porque lo progre no quita lo coqueto.
La revolución no te va a esculpir milimétricamente los abdominales que siempre soñaste,
ni te va a dotar de un portentoso miembro prensil,
ni te va a hacer crecer la barba de leñador más fuerte y más sedosa,
porque la revolución no va a ser por internet, amigo.
La revolución no te va a borrar por dermoabrasión
ese tatuaje del Che que te hiciste en los noventa.
No va aumentar el tráfico de tu página web, no te va a dar miles de likes,
no te va a hacer un tuítstar ni un semental de Tinder.
La revolución, si es, no va a ser cosa de varones.

La revolución no va a ser por internet.

No vas a ver por streaming a la yuta reprimiendo,
meta bala de goma y gases lacrimógenos,
porque dice mi abuela que le dijo un taxista
que lo escuchó en la radio que a esos cabecitas negras
al final no les gusta laburar, y acá necesitamos un país en serio,
una revolución de la alegría.
Ya nadie va a dejar comentarios anónimos
en la web de los diarios, y nadie va a mirar
Bailando por un sueño ni Almorzando con Mirtha
ni Fútbol de primera, y ni hablar de La noche del domingo
y las Gatitas y ratones de Porcel.
Y los pibes, en vez de cazar Pokemones,
van a estar en la calle buscando algo mejor.

La revolución no va a ser por internet.

No va a ser trending topic, ni van a hablar de ella en un documental
coproducido por la UNESCO y Goldman Sacks que mencione al pasar a #NiUnaMenos,
narrado por los hijos importados de Brad Pitt y Angelina.
La banda de sonido no va a ser de U2 ni Manu Chao.
Calle 13 tampoco va a poner su granito de arena, y de Silvio ni hablar:
todavía va a estar buscando su unicornio.

La revolución no va a ser por internet.

La revolución no va a ser monetizable por Adsense, pero si vos querés
vas a poder ponerla en tu perfil de LinkedIn que, como todo el mundo sabe,
es la mentira más piadosa del capitalismo.
La revolución no va a pasar el desafío de la blancura.
La revolución no va a sacar el tigre que hay en vos, ni el empresario.
La revolución no te va a limpiar el inodoro, ni la conciencia biempensante.
La revolución no te va a poner la camiseta, ni los pantalones.
La revolución te va a obligar a ponerte las pilas.

La revolución no va a estar en todos tus dispositivos, amigo.
La revolución va a ser en vivo.

§

 

A REVOLUÇÃO NÃO ACONTECERÁ PELA INTERNET (COVER DE GIL SCOTT-HERON)

Você não vai poder ficar em casa, amigo.
Você não vai poder desativar o roaming ou roubar o wi-fi do vizinho.
Você não vai poder continuar jogando Candy Crush
ou olhando as fotos de gatinhos no Facebook
porque a revolução não acontecerá pela internet.

A revolução não acontecerá pela internet.

A revolução não será vista com filtros do Snapchat ou Instagram,
num p&b vintage ou, previsivelmente, apenas em branco.
A revolução não virá por drone ou se organizará pela deep web
ou estourará quando vazar o sex tape onde Donald Trump, Marine Le Pen e Putin
gozam como porcos com as mãos de Perón restauradas,
com nail art e germicida gel.

A revolução não acontecerá pela internet.

A revolução não sairá, com exclusividade, no Netflix, produzida pelo Tom Hanks, dirigida pelo Oliver Stone e protagonizada pelo Gael García Bernal porque ser progressista não diminui a elegância.
A revolução não esculpirá milimetricamente em você o abdômen com o qual sempre sonhou,
ou te dotará com um milagroso pau com garras,
ou te fará crescer uma barba de lenhador mais forte e mais sedosa,
porque a revolução não acontecerá pela internet, amigo.
A revolução não apagará por dermobrasão
essa tatuagem do Che que você fez nos anos noventa.
Não aumentará o tráfego do seu site, não te dará mil likes,
não te transformará em um Twitterstar ou num garanhão do Tinder.
A revolução, se acontecer, não será coisa de machões.

A revolução não acontecerá pela internet.

Não verá por streaming a polícia reprimindo,
metendo bala de borracha e gás lacrimogênio,
porque minha avó contou que um taxista lhe disse
que escutou no rádio que esses manifestantes
não gostam de trabalhar, mas precisamos de um país sério,
uma revolução de alegria.
Ninguém deixará comentários anônimos
nos sites dos jornais e ninguém assistirá
Dança dos famosos ou Almoço com as estrelas
ou a Primeira Divisão, ninguém falará sobre o Fantástico
ou sobre o Fala que eu escuto.
E as crianças, em vez de caçar Pokémon,
estarão nas ruas buscando algo melhor.

Não será trending topic ou tema de algum documentário
coproduzido pela UNESCO e pela Goldman Sachs, que mencione de passagem o #NiUnaMenos,
e seja narrado pelos filhos importados de Brad Pitt e Angelina.
O soundtrack não será U2 nem Mano Chao.
Calle 13 também não fará seu “grãozinho de areia” pela paz e se falará de Silvio Rodriguez menos ainda:
ele estará procurando seu unicórnio.

A revolução não acontecerá pela internet.

A revolução não será monetizada pelo Adsense, mas se você quiser
poderá inseri-la no seu perfil do Linkedin que, como todo mundo sabe,
é a mentira mais piedosa do capitalismo.
A revolução não passará no desafio da brancura.
A revolução não arrancará o tigre que há em você, nem o empresário.
A revolução não limpará sua privada ou sua mente liberal.
A revolução não te vestirá a camiseta ou a calça.
A revolução vai te pilhar.

A revolução não estará em todos os seus dispositivos, amigo.
A revolução será ao vivo.

 

Deixe um comentário