Marcos Visnadi nasceu em Jundiaí em 1984. Vive e escreve em São Paulo. Mantém o blog rabo de macacoo (clique aqui).
* * *
Cilada
No inexato habitam
as cracas do espírito.
Que bom, corpo,
em nódoas e metástases
cálculos catarros e merda endurecida
mas livre das porqueiras.
Depois de morto se dissolve
e Deus me manda pro Inferno.
Você não soube
ele diz
o tempo todo
nada
se pode
contra
o Correto.
§
Hóspede
que
apertada
e folgada
calada
na lava
da lábia
e molhada
só sim
sem não
aberta
colada
na calefação
da parede
macia
que espasma
essa boca
te sirva
de casa
§
Vocação do vacilo
o ânimo
de fazer um tríptico
épico
de longínquas distâncias
cadê
o nome
no mármore
estátua atacada por moleques
queda
de braço da barbárie
bem
o nada
entrave das estrelas
reatores nucleares no infinito
matéria imprevisível
do tempo e do sonho e do
affe
cadê
o ânimo o nome o nada
na trave
dos trinta anos do ultraje
trabalhar um tríptico épico
que transforme tudo
em estátua
atacada
por moleques
§
Retrato
com a coluna esticada em equilíbrio e alegria
e o focinho à procura de aventuras
o cachorro vive sua vida
atormentado só pelas pulgas
dez palmos de língua pra fora da boca
um acaso que não desiste
o cachorro cumpre sua missão
de mijar em tudo que existe
§
A foda é uma entrada no antropoceno
Posso pensar átomos tocados pela língua
e rotações desta Rocha imaginária
em torno do próprio eixo, posso pensar
suas pernas abertas uma porta, entrar por elas
na casa exposta às tempestades do Tempo
nossos sonhos destelhando e nos deixam
sem o abrigo do látex e da potência
uma guerra entre vírus e Gulliver
amarrado entre tochas e tempero de churrasco
nós dois separados e entre nós outros átomos
por acaso não formaram essa língua que eu passo
nos dentes trincados na gengiva que sangra
Big Bang
Misterioso Acaso
Deus Criador
Começo Inalcançável
Múltiplos Fins
Imaginados
os físicos vos perscrutam nas frestas do conhecimento
e enchem minha cabeça de mitos
que remetem a mim mesmo
a língua áspera e as hemorroidas insistem cuidados médicos
a Morte sussurra à porta sem pressa testando as chaves
encontrar uma pista de pouso entre as cordilheiras fechadas do Dia
suas pernas abertas
sem átomos
ou medo
ou movimentos planetários
eu rezo pra que feridas nunca nasçam na sua pele que tem cheiro de gente viva
essa batalha
essa dança
só termina
na Saída
§
Com fúria fúnebre
tudo o que se escreve
o que se canta o que se dança
não adianta
onze mil pessoas
marcharam em toronto
três milhões e meio
pelas ruas de são paulo
se somos
dez por cento
de sete bilhões
no planeta
faça as contas:
não tem
regra de três
que te traga de volta
nem pronome
oblíquo átono
que sustente
tanto nome à revelia
em certidão de óbito
textos de luto
poemas fúnebres
foda-se
gritar
não esqueceremos
de vela na mão
nós esquecemos
pesquisadoras da mesma universidade em que você foi morto
encontraram oitenta e seis bilhões de neurônios no cérebro humano
bem menos
que os cem bilhões
que acreditávamos ter
tivéssemos
trilhões ou mais, talvez
soubéssemos dos assassinos
até a preferência
do almoço da família um dia antes
de abaixar as suas calças, de te dar
de bruços, de graça, pra noite, pra sempre
mães de todos os continentes choram filhos mortos
saturno mastiga a gente antes do futebol de sábado
no sábado encontrarei amigos e seu nome passará
entre uma mordida e outra
a língua desvia dos dentes
ninguém te soletra
no entretempo
estatísticas tecem a rede que prende
o anjo que olha as ruínas do foda-se
outras letras com seus nomes vão morrendo
que nem os neurônios
com o tempo
eles não se regeneram
temporada de caça sempre aberta
no escuro os viados se encontram nos campos
pululam a última da lady gaga
e quando se tocam a luz que sai do corpo
deixa a gente exposta acende várias lâmpadas
o nome disso tudo não tem nome:
chama sinapse fluorescência
diego vieira machado
etc.
Muito bom.
Quero o contato de Marcos Visnadi.
Quem pode ajudar?
olá, waldo.
você pode tentar entrar em contato com ele através do facebook. o marcos é bem solícito.