Luis Marcio Silva nasceu na cidade de Franca/ SP. É geminiano sob o regimento do horóscopo Ocidental. Pelo calendário chinês, nasceu no ano do macaco. Pós-Graduando em Letras, pesquisa poesia brasileira pela UNESP de Assis.
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Sem título
Permita-nos
/Sem a frivolidade dos verdugos/
Um passo que não seja duro e reto ao abismo
Mas retida no seu reverso
Uma lágrima vertida em chuva fina sem dilúvio
que repousa o equilíbrio do orvalho sobre a pétala
E a seiva a vingança de um espírito sagrado
/em surdina/
Sem extirpar nossos ossos da terra.
§
Trocadilhos ferinos
(Os sertões, Euclides da Cunha)
DIPLOMAS E CANUDOS
O sertanejo é antes de tudo um norte.
A terra,
Um triste disparo de trava-línguas;
O homem,
Um tanque tracionado avant-garde,
A guerra,
Não de bater roupas sujas em ruínas,
*
Mas a marcha que centrifuga os trapos
Sobre as dramáticas Troias de taipas.
§
Homo Spiritualis
(A caverna dos sonhos esquecidos, Werner Herzog)
HOMO SAPIENS
Há quem quebre bêbado uma taça e
No vinho e no sangue se desenhe rupestre
Distanciando-se do corpo de Cristo;
As lentes de vidro muito amigas das areias
Há quem dispense saber disto,
Até mesmo o saibro o mar e o barulho;
HOMO FICTUS
Frente ao mar num domingo,
(o voo suspenso de uma gaivota)
o homem fotografa a família
brinca o ritual do espírito
e da ampulheta:
Califa do tempo e das sereias.
§
3.
um burburinho
e abre-me a fenda do silêncio uma fotografia
a vaga angústia
os nervos
a pupila aberta
a tristeza elíptica
a turva promessa no alvo da alegria.
12.
Angústia
As unhas presas
No cadafalso de remorso
O espelho
E o ruir dos olhos.
As pernas pairam
Na angústia da vida
Se não te governas
A pele que segura os ossos.
§
PUPILAS DE CARONTE
A morte é um livro
negro de contabilidade
best-seller lido na fila
de um banco em estado like;
É unidade de sentido
empreendido de lógica
Matemática em papel
branco a título corrente;
Sem divisa de alforjes,
a língua das finanças é
Uma bolsa de valores
em óbulos cambiantes
Flores secas e moedas
na vitrine de Caronte;
Se não, vis-à-vis,
pauladas a remo do calote.
Em latim, a morte
e seus disfarces
soam reza morta
na língua do sacerdote
Quem não se traduz
em nenhuma parte
no tecido descobre
o fogo do chicote.
A morte é o poder
de três tigres tristes
Com a língua travada
na inércia da carcaça,
Mecanismo de natureza
primitiva;
Espia, a barbárie
da terra devastada.
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