4 poemas inéditos de Sara Síntique

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Sara Síntique é escritora, atriz, educadora, mestra em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde também se graduou em Letras Português – Francês. Autora do livro Corpo Nulo (Poesia, Editora Substânsia, 2015), escreve poemas quinzenalmente para o blog Leituras da Bel (Jornal O Povo). Tem textos publicados na Antologia de Poemas Eróticos – Mulheres Cearenses, nas revistas Literatura BR, Diversos Afins, Gueto, Saúva e aqui na escamandro. Os poemas abaixo integram seu livro inédito Água – ou testamento lírico a dias escassos, a sair este ano pela Edições Ellenismos.

*

abstração

até quando
arrastar os pés no deserto
e não ter que
esta miragem?

do Chade ao Saara

um dia chega que
não se pode mais tanta
abstração

até quando
arrastar os pés no deserto
e não ter que
esta miragem?

até quando
oh Velho Navio
um mar
um mar longínquo
oh Velho Navio
e uma terra
onde se possa querer
à vista?
§

onda de porto mare motus

tantas manhãs de domingo e

e então
acostumar o gosto ácido
na boca e
um cataclismo
aquele medo de esquecer
todas
as palavras
§

lambíamos
durante as madrugadas

mas quanto desses pelos restam em tua boca
feito
areia remota
a dissolver os oceanos?
§


memórias anotadas num diário de infância

hoje: uma mulher molhou os pés no riacho.
ela molha as mãos uma mulher adentra
mas não toda
e lava panos
tantos panos a barriga dela
toda pra fora suor e água e a barriga dela a
roupa toda molhada
as mãos ficando doutra forma
a pele engraçada enrugada engraçada

um peixe lhe morde os pés e outro e outro beliscam
não sei o nome
dos peixes mas sei
a mulher ri

por ora ri
ri mesmo

sorri

hoje: uma mulher sorri.
nem parece que tanto sol lhe assusta.

***

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