2 poemas inéditos de Nina Rizzi

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Nina Rizzi (SP, 1983), historiadora, tradutora e poeta, vive atualmente em Fortaleza/ CE (Brasil). Tem poemas, textos e traduções publicados em diversas revistas, jornais, suplementos e antologias. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014),  Romério Rômulo: ¡Ah, si yo fuera Maradona! (versão em espanhol), geografia dos ossos (poesia, Douda Correria, Portugal). Edita a Revista Ellenismos – Diálogos com a Arte, e escreve seus textos literários no quandos. Os poemas abaixo são de seu livro inédito “ainda te esqueço”.

* * *

em lugar de desenho,

três gatos pintados me olham da sala
essa menina tá dançada
tanto sol tanta praia a coluna ereta e nada

umas unhas pintadas de azul
um nome tingido de encarnado
o buraco negro na parede fora de órbita

olho os gatos pintados
e meus músculos brincam
de fazer casinhas indianas
meus olhos brincam de ficar estáticos

até que os dentes se cruzam no absurdo
numa dentada de tigre que não se vê
que espreita espreita pronto prontinho a atacar

fico com um nome um nome seu
a estalar nos dentes
‘linha metafísica dos ossos’

o nome estala junto de um mar
que invento no riso e rio pra os gatos
os dedos em figa pra garramento nos ossos

cada um dos seus ossos
são bons os seus ossos penso-
os escondidos por trás dos pelos
da camisa tão inútil e freak

os dias estão quentes daqui
e esses ossos me atravessam como
o nome antes como palavras tão bem
arranjadas a meter essa coisa nos dentes

eu revejo fotos procurando os ossos
por trás da câmera e eu não vejo
mais que um poema

este poema que profanasse o tempo
a metafísica vinteminutos e que se abre
a um desejo tão puro de pegar
cada um desses ossos tão bons

dos ossos sei dos dedos que me segura
a clavícula quer dizer eu sei dos meus ossos
que estalam com o toque tão sutil
e ingênuo do poema que se abre na manhã

rio olhando os gatos e assim
tão paradinhos gatinhos pintados
eles me lambem a linha do joelho

ainda que não haja gatos
seguro forte essa linha que captura o nome
um mesmo osso e nome m.

[e não desenho]

§

suíte buendía

«Whan that Aprille with his shoures soote
The droghte of March hath perced to the roote …» – Chaucer

o espanto longe
pedra abaixo

porisso estou
sem memória

a olhar as vacas
que te distraem

uma folha
que dá sombra

aos teus olhos
tão lindos

tão longes
o ar que busco

lume do teu sangue
em minha boca

teu nome
próprio e verbo

a derradeira palavra

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