Tomasz Różycki, por Rob Packer e Piotr Kilanowski

Tomasz Różycki, (Opole, Polônia, 1970–) é um dos nomes mais importantes da poesia polonesa atual, pertencendo à geração que segue a poetas internacionalmente reconhecidos, como Czesław Miłosz, Wisława Szymborska e Zbigniew Herbert. Ele publicou mais de uma dezena de livros, dentro os quais se destacam Dwanaściestacji (Doze estações, 2004) e Kolonie (Colônias, 2006). Além de poeta, é tradutor do francês e atualmente participa da residência artística da DAAD em Berlim. A sua poesia se destaca pela virtuosidade formal e pelas camadas da história e atualidade da região da Silésia, onde ele nasceu e vive até hoje. Essa é a primeira vez que seus poemas vêm a ser publicado no Brasil. A tradução da entrevista foi feita por Rob Packer, a dos poemas por Piotr Kilanowski.

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Entrevista com Rob Packer (feita em Berlim em inglês em 2018)

Rob Packer: Tomasz, queria começar perguntando sobre o contexto da sua obra, já que ainda não foi traduzida para o português. Para mim, sua obra — e em especial a sequência de sonetos, Kolonie (em livre tradução, Colônias), e a epopeia, Dwanaście stacji (Doze estações)— é particularmente densa quanto às referências e aos momentos específicos da história polonesa e da cidade de Opole, onde você nasceu. Ainda que, ao mesmo tempo, pareça tão universal. Você pode falar mais sobre esse contexto?

Tomasz Różycki: O contexto é muito importante: cria uma atmosfera e é a base de toda a minha escrita. Nesse contexto, há níveis diferentes. Um deles é a história: naturalmente, trata-se da história mais ampla da Polônia e desta região da Europa, mas também é, ao mesmo tempo, a história da minha família. Acontece que sou de Opole, na Polônia; uma cidade que antes da Segunda Guerra Mundial era alemã e que agora é polonesa, depois das mudanças das fronteiras da Polônia e Alemanha, impostas por Stalin. A população polonesa do leste da Polônia — por exemplo, de Lwów [hoje Lviv] que agora fica na Ucrânia — foi expulsa daquela região para o oeste. Em Opole, penso que a metade da população possui raízes na Ucrânia de alguma forma. É sempre muito misturado: você tem origens polonesas, ucranianas, por vezes armênias ou judias. Às vezes é muito complicado.

Cresci em uma família em certa situação especial: a família inteira tinha uma narrativa sobre o passado, sobre o quão maravilhoso e terrível era o passado. Era a história de algo perdido, como um paraíso perdido: meus familiares perderam a identidade, infância e juventude no Leste, em Lwów. E sempre falam da maravilha que era: a maravilha que era a natureza, tudo… as estações do ano: o que há de mais verdadeira estava lá em Lwów, de um jeito que não está agora, em Opole. Em Opole, não é a mesma coisa, não é real: o verão lá era muito quente e o verão aqui não é como o de lá, é sempre uma espécie de simulacro. Para mim, quando criança, essas histórias eram engraçadas porque era como se vivessem com as malas prontas para voltar. Eles sonhavam com o dia em que alguma coisa aconteceria e mudaria a história, permitindo-lhes voltar para as suas casas perdidas. Eu me lembro das histórias — que são um pouco caricatas em Doze estações —, de como as coisas eram baratas antes da Guerra em Lwów. Por exemplo: até um quilo de cenoura custava menos de 11 groszy, ou alguma coisa assim. Para mim, esse lugar era surreal, um pouco fantástico, um país perdido, como a Atlântida. Perdido, não real, engraçado… um pouco grotesco, mas ao mesmo tempo, com todo mundo desaparecido.

Esse é o primeiro nível. O segundo nível é a guerra, que foi terrível. Havia histórias de homicídios e de vizinhos que se tornavam inimigos. Era um trauma tão grande para aquelas pessoas: a mesma história sempre tinha um lado leve e um lado muito obscuro. É uma coisa simbólica: eu não conseguia entender como você podia, ao mesmo tempo, odiar e amar o passado. Eu me lembro, por exemplo, da minha avó ou do meu avô: eles realmente sonhavam em voltar para Lwów, mas tiveram a oportunidade de fazer isso, não quiserem ir porque tinham medo de se ferir com a decepção diante daquilo que a cidade se tornou. O passado foi destruído e nada é maior do que antes. Cresci com histórias desse tipo que eram muito fantásticas e nunca reais, porque eu sabia que não eram verdadeiras, essas histórias do paraíso. Nunca é verdade: era a versão deles do que aconteceu. Você pode perguntar para os vizinhos, por exemplo, e eles terão histórias completamente diferentes para contar, com inimigos e situações completamente diferentes. Para mim, ao mesmo tempo, aquilo era uma fonte para a imaginação, como uma ilha que voava, uma terra da fantasia, e jamais é possível saber se essas histórias são verdade ou não. Pode-se acrescentar histórias a essa nuvem de histórias, pode-se acrescentar as próprias histórias. Pode-se dizer o que quiser e tudo é quase verdade sobre essa terra. E este é a razão do contexto para começar a pensar Colônias e Doze estações.

Doze estações é um texto sobre a família, sobre essa situação especial que é viver em uma cidade estranha onde tudo desde o início não era realmente seu. Eles começaram a colonizar o espaço quando chegaram.

RP: Um momento que achei muito surpreendente em Doze estações é o momento, na casa, em que o Neto [um dos personagens] fica pensando sobre os livros que os Peters, a família alemã, havia deixado lá.

TR: Sim, os objetos: os móveis, os livros, e assim por diante. Era o que sobrou de Lwów e o que acharam em Opole. Cada objeto tem sua própria história. E, ao mesmo tempo, eles se tornaram a história da família de uma forma nova e muito diferente. Os objetos têm vida dupla: a vida de antes e a de depois. Isso me fascinava. Sabia, por exemplo, que os livros faziam parte da vida dos Peters, da família alemã, mas que, ao mesmo tempo, eu tinha uma conexão forte com aqueles livros que não entendia. Eram exóticos, e parte da minha vida ao mesmo tempo. Isso de viver em um espaço exótico, em uma situação exótica que vem sendo colonizada a cada passo e cada dia mais e mais. Pan Tadeusz, a epopeia nacional polonesa [de Adam Mickiewicz], era uma inspiração, porque foi na época que Andrzej Wajda tinha feito uma adaptação cinematográfica e vi milhares de crianças indo ao cinema em grupos escolares e o primeiro verso é: “Lituânia! Minha pátria!” É a epopeia polonesa principal, mas tem um começo estranho para os poloneses hoje em dia, porque fala da Lituânia e do Leste.

RP: Sim, fala de um lugar que fazia parte do Reino da Polônia e que agora é um país independente.

TR: Eu me perguntava o que eles achavam disso. Penso que na Polônia há um pensamento esquizofrênico quando se olha a história e a identidade polonesa. Onde fica essa identidade? E eu senti essa identidade esquizofrênica em Opole, onde as pessoas vivem com malas prontas, sonhando em voltar para outro lugar, embora esse país dos sonhos não exista, nunca existiu. Era muito estranho e achei um bom ponto de partida para o poema.

RP: Então, isso me faz pensar na irrealidade na sua obra. Em Colônias, que parece real e irreal ao mesmo tempo, já na introdução de um dos seus livros na tradução inglesa, tem uma referência a uma frase de Bruno Schulz [contista polonês, 1892-1942] sobre a “mitologização da realidade”… Algo que eu realmente sinto na sua escrita. Você mencionou Mickiewicz, eu acabei de mencionar Schulz, mas há muitas influências, não só da Polônia, mas de outros lugares da Europa Central em Colônias. Tem referências a Rainer Maria Rilke e a Georg Trakl, mas também de países mais distantes. Tem uma referência a Fernando Pessoa… Queria saber quais escritores foram uma grande influência para você.

TR: É uma pergunta difícil, porque naturalmente muda a cada mês, a cada ano. Tenho os meus escritores e poetas prediletos e alguns deles se mantêm no mesmo status: Bruno Schulz, claro. Essa mitologização do espaço foi muito importante quando descobri Schulz na escola. Podia me sentir na mesma situação, porque é um país imaginário — um universo imaginário inteiro — isso de ter nascido em uma cidade muito pequena e muito chata, sem nada para ver e sem muitos lugares para ir. Era uma situação claustrofóbica para Schulz, sempre foi assim para ele. Ele sonhava em ir a Paris, a Viena, a Lwów, em ir a Varsóvia etc., e nunca conseguiu. Para mim, em Opole, eu me sentia confortável com Schulz, porque ele era um apoio para sobreviver. É maravilhoso que haja uma imaginação assim que crie um universo. Em Colônias — e não quero fazer um paralelo entre Colônias e Schulz, porque Schulz é um dos grandes — queria fazer a mesma coisa. Pensei que seria bom misturar essa série de poemas — com títulos de livros de aventuras sobre piratas, sobre a descoberta de novas terras marítimas, sobre Magalhães e Vasco da Gama e outros — com a realidade da vida no interior da Polônia, e, ao mesmo tempo, conectá-la à imaginação infantil, ao que uma criança pensa do mundo. Onde está a imaginação dessa criança e o que ele pensa do mundo? Então, é isso, os poemas são conectados ao mesmo tempo à definição de colônias em polonês. Uma kolonia é uma terra novamente descoberta com a colonização dos territórios que é, quase sempre, uma história muito triste. Mas ao mesmo tempo, kolonia em polonês é um acampamento de verão onde os adolescentes vão passar férias com os seus professores sem a companhia de seus pais; estão sozinhos, longe de casa e em contato com a natureza. É uma iniciação para eles: a descoberta do amor, da natureza, da adolescência e de parte da vida adulta.

[Fernando] Pessoa é outra influência — como os outros autores da Europa Central — que criava universos, através de seus heterônimos e suas vidas múltiplas. Acho que era alguém que vivia uma vida de sonhos, e às vezes era completamente estranho. Era bom para ele psicologicamente? Acho que não, mas ao mesmo tempo, é fascinante. Eu me lembro quando fui a Portugal pela primeira vez e vi os lugares conectados a Pessoa e me dei conta de que, como Kaváfis, ele trabalhava em alguma agência, com livros de contabilidade, inclusive. Ao mesmo tempo, tinha a sua imaginação que era enorme. Eu me lembro do guia para Lisboa que Pessoa escreveu e percebi que ele inventou histórias para deixar o guia mais interessante para os visitantes e turistas ingleses. Ele acrescentou algumas histórias no livro que não são reais… [isso] também está conectado com essa mitologização do espaço.

RP: Só li obras suas, como Colônias e Doze estações, na tradução inglesa, e o que me chamou atenção, no início, foram questões formais: há uma sequência de sonetos e uma epopeia picaresca. Tantos poetas na tradição ocidental hoje em dia, inclusive na Polônia, escrevem em verso livre. O que a forma lhe dá que o verso livre não oferece?

TR: É uma pergunta interessante, porque cada vez que os meus colegas me perguntam — “por que você escreve desse jeito tão complicado?” — acho que enxergam a forma como uma prisão, como uma limitação e que você não está livre quando escreve os seus pensamentos formalmente. Eles têm no poema em verso livre uma sensação de liberdade, e podem fazer o que querem. Para mim, é uma situação diferente. Prefiro ter uma forma e não consigo começar sem ela. A forma é o ponto de partida. Às vezes, estou trabalhando dois anos, até cinco anos, sem poema algum na minha cabeça ou no horizonte, e aí acho o primeiro verso e esse primeiro verso sempre tem o seu ritmo. É como um modelo, um modelo rítmico e musical para o resto do poema. Eu tenho tudo aí: os acentos, e assim por diante. Começo a partir desse primeiro verso e preciso do primeiro verso para ter o segundo e terceiro verso. Quando uso uma forma, todas as palavras entram na minha mente (eu sei que é uma banalização do processo) e posso escolher o que preciso para preencher a forma: posso escolher isto ou aquilo e posso escolher a melhor opção. Tento muitas vezes e, finalmente, chego na melhor opção. Espero a palavra que é exata, mas que, ao mesmo tempo, me surpreenda. É estrito, porque precisa seguir a forma, mas ao mesmo tempo, quando as palavras que você usa são banais ou clichê, você corta e isso pode ser refrescante, surpreendente, novo ou engraçado, e pode caber muito bem. É assim que trabalho e quase sempre trabalho enquanto caminho. É um processo que começa e continua na minha mente e, depois de um tempo, estou sentado em algum lugar e escrevo o que compus como uma estrofe. Um ano atrás, li as memórias de Nadezhda Mandelshtam, que falou que essa era a forma de escrever — bom, não exatamente escrever, porque era ela que colocava no papel — para Óssip Mandelshtam, que sempre andava e dizia as palavras em voz alta, repetindo-as e criando estrofes inteiras ou um poema inteiro. Às vezes trabalho assim. Quando acho uma forma, às vezes está tão forte e irresistível que não consigo parar com um poema só e preciso continuar, porque ainda está comigo. É um tipo de obsessão.

RP: Isso foi fascinante e já abrangemos muitos aspectos sobre a sua obra. Queria fazer uma última pergunta: o que você espera de um poema, seja como escritor, seja como leitor?

TR: É uma ótima pergunta! A resposta é muito difícil! Tive que reler os meus próprias poemas para uma seleção na Polônia e fui forçado a ler os meus poemas antigos. Não sei como chamar isso, mas às vezes tenho um momento de espanto que me faz feliz — e não porque tenha sido eu a tê-lo feito — mas porque aquele verso foi uma espécie de trampolim para a mente ou para o espírito de ir a algum lugar e se entusiasmar. É muito estranho, é como um entusiasmo pela vida. Talvez eu esteja doente, ou doente mental, mas, para mim, é esse o momento da criação: quando fico assombrado com a forma que as palavras operam em conjunto nesse trampolim. É o momento em que posso saborear a vida e também sentir algo que nunca estará perdido. Penso que os seres humanos são sujeitos a criar a arte, a pintura, a poesia etc. porque temem que tudo seja mortal e que nada fique depois de morrerem. No poema, às vezes sinto que não há imortalidade, mas ele me transporta e cria felicidade. É uma pergunta difícil!

RP: Eu sei, mas sinto que é uma boa pergunta para um poeta, porque a resposta é sempre diferente. Claro que o que você busca em um poema a cada momento pode mudar.

TR: Quando leio um poema de outro poeta, naturalmente, posso reconhecer alguma coisa sobre mim, mas ao mesmo tempo, posso sentir esse mesmo espanto. Eu não sou muito místico, isso não está ligado a nenhuma religião, mas há essa sensação de uma comunicação que sobrevive aos séculos. Não importa qual a língua, qual o país, qual a nação, o mais importante é o tempo. Todos temos medo do tempo porque é ele que nos mata. Leio alguns poetas e posso senti-lo do meu lado: está morto, claro. O poema é como uma forma vazia, um copo, por exemplo, e cada leitor enche o copo com as suas próprias sensações e emoções e com a própria vida, depois pode bebê-lo. Acho que o poema é uma taça de vinho que pode estar cheia do próprio vinho, mas o sabor é das duas coisas juntas. Claro, posso pensar em alguma coisa muito pessoal quando escrevo um poema. O leitor não tem nenhum contato ou nenhum acesso às minhas emoções pessoais, mas ele tem as próprias emoções, a própria vida. Quando um poema é bom, funciona a cada leitura. Eu acho que o poema fica morto quando o livro está fechado e quando o leitor começa a lê-lo, ele se reanima. É como um pequeno fantasma que está dormindo ou sonhando e quando você abre o livro, ele está aí para morder quem o lê.

* * *

§

Cynamon i gożdizki

A teraz leżę z dziurą w głowie, przez nią wiosna
lekko zagląda mi do środka, kwitną ściany,
kwitną tapety, fotel, zakwita plusz kanap
i egzotyczne ptaki mogą się wydostać

wreszcie na zewnątrz, tato. Więc tak to wygląda,
że manekiny mają dziś władzę nad nami
i dekorują sobie kuchnię obrazkami

z naszych książek dziecięcych. Winna jest tu poczta.

Od początku wiedziałem, że to się tak skończy,

od dnia, w którym dostałem pierwszy raz z kolonii
tamten list z przyprawami. Potem przychodziły
już bez ostrzeżenia, we dnie oraz w nocy,

tak jaskrawe, pachnące, musiałem się z nimi
jakoś ukryć, w ciemności, sam, zamykać oczy.

Canela e cravo

E agora jazo com um furo na cabeça, por ele a primavera
dentro de mim espreita, florescem as paredes,
floresce o papel de parede, a poltrona, a pelúcia
dos sofás e os pássaros exóticos podem lá para fora

fugir por fim, papai. Então, ao que parece,
hoje têm poder sobre nós os manequins,
e decoram cozinhas com as imagens
de nossos livros infantis. A culpa é do correio.

Desde o início sabia que esse seria o fim,
desde o dia em que das colônias recebi
a carta com as especiarias. Depois elas vinham
já sem aviso, de dia e de noite,

tão cheirosas, vibrantes, precisei me esconder
com elas, no escuro, só, cerrar os olhos.

§

Misjonarze i dzicy

Ci, co nas okradają, ci, co ustalają
opłaty i podatki, ci wszyscy w urzędzie
rozdzielający obowiązki, wszyscy biegli
w planach i sprawozdaniach, ci tak doskonali

w tropieniu naszych błędów; ci, którzy nas wcale
nie słuchają i nigdy nie słuchali przecież,
ci, co nie patrzą w oczy, ci, których koniecznie
trzeba prosić o radę, pomoc, trzeba im się stale

i od nowa przedstawiać – wszyscy urażeni,
pominięci, dotknięci – ich figurki z ziemi
i śliny ulepiłem, to są moi święci
leżący na gazecie. W specjalnym obrządku

odprawiam nabożeństwo, wolno, od początku
będę powtarzać sceny ich cudownej męki.

Missionários e selvagens

Aqueles que nos roubam, que estabelecem
as cauções e os impostos, os da repartição,
que dividem as tarefas, todos competentes
em planos e relatórios, aqueles perfeitos

em perseguir nossos erros, os que não
nos ouvem e nunca nos ouviram,
que não olham nos olhos, a quem obrigatoriamente
é preciso pedir conselho, ajuda, a quem sempre

é preciso apresentar-se – todos ofendidos
excluídos, chateados – moldei suas figurinhas
com terra e saliva em cima do jornal,
são meus santos. Num rito especial

celebro o culto, devagar, desde o início
vou repetir as cenas de seu maravilhoso suplício.

§

Rysy

A jeśli jednak jesteś – powiedz – czy nie żyjesz
czasem gdzieś we mnie? Jak grzyb, jak guz się rozwijasz,
gwiezdny pył, ciało obce, kosmiczny nowotwór,
z dnia na dzień, z roku na rok. Całe terytorium

opanujesz, przechwycisz, dokonasz przewrotu
pewnego świtu w zimie. I będziesz królował
w ciele już niepodzielnie za sprawą postępów
w operacji przemiany w swoje podobieństwo

to znaczy w nicość, prawda? Jeżeli tam jesteś,
jesteś wrogiem wewnętrznym, samym przeciwieństwem,
agentem, dywersantem i co noc mnie zjadasz
kęsek po kęsku, prawda? Czy to nie przypadek,

że co rano w lustrze widzę kolejne ślady
postępującej fikcji, rozpoznaję w twarzy
cudze rysy i kreski, zmarszczki dopisane
nie moim charakterem pisma obce zdanie.

Traços

E se, contudo, existes – dize – se não vives
por acaso dentro de mim? Como um fungo, um tumor te desenvolves,
pó estelar, corpo estranho, neoplasia cósmica,
um dia após o outro, ano após ano. Todo o território

dominarás, subjugarás, darás o golpe
numa certa madrugada de inverno. E reinarás
no corpo totalmente, por conta dos progressos
na operação de transformação à tua semelhança,

isto é, em nada, não é? Se estás lá
és um inimigo interno, a própria contradição,
um agente, um subversivo, e toda noite me devoras
um bocado após o outro, não é? Será por acaso

que toda manhã vejo no espelho novos rastros
da ficção progressiva, reconheço no rosto
traços e riscas de outrem, as rugas inscritas
com uma letra que não é minha – frases alheias?

§

Przeciwne wiatry

Kiedy zacząłem pisać, nie wiedziałem jeszcze,
że każde moje słowo będzie zabierało
po kawałku ze świata, w zamian zostawiając
jedynie miejsca puste. Że powoli wiersze

zastąpią mi ojczyznę, matkę, ojca, pierwszą
miłość i drugą młodość, a co zapisałem,
ubędzie z tego świata, zamieni swe stałe
istnienie na byt lotny, stanie się powietrzem,

wiatrem, dreszczem i ogniem, i to, co poruszę
w wierszu, znieruchomieje w życiu, i pokruszy
się na tak drobne cząstki, że się stanie prawie
antymaterią, pyłem całkiem niewidzialnym,

wirującym w powietrzu, tak długo, aż wpadnie
w końcu tobie do oka, a ono załzawi.

Ventos contrários

Ao começar a escrever ainda não sabia
que cada palavra minha do mundo tomaria
um pedaço, em troca deixando apenas
o espaço vazio. E que meus poemas

substituiriam para mim a pátria, a mãe, o pai,
o primeiro amor, a segunda juventude e vai
sumir tudo o que escrevi desse mundo,
sua existência sólida em ar se transformando,

em vento, chuva e fogo e o que eu tocar
no poema vai na vida se imobilizar
e se esmigalhar em átomos tão reduzidos,
que virarão quase antimatéria, a invisível

poeira que gira por tanto tempo no ar
até cair por fim no seu olho e ele lacrimejar.

§

Kawa i tytoń

Kiedy zacząłem pisać, nie wiedziałem jeszcze,
co ze mnie zrobią wiersze, że się przez nie stanę
jakimś dziwnym upiorem, wiecznie niewyspanym,
o przezroczystej skórze, chodzącym po mieście

jakby lekko naćpany, kładącym najwcześniej
się razem z wściekłym brzaskiem, i jeszcze nad ranem
łażącym po znajomych, zupełnie spłukany,
jak jakaś menda, insekt, przywołany we śnie

kawałkiem gołej skóry, czy może westchnieniem.
I nawet nie wiedziałem, w co mnie wreszcie zmienią
te durne wiersze, skarbie, i że to ty właśnie
przywołasz mnie do życia i że dzięki tobie

tylko będę widzialny, z tobą się położę
i odczekam tę chwilę, dopóki nie zaśniesz.

Café e tabaco

Ao começar a escrever ainda não sabia
o que fariam de mim os poemas, que eu me tornaria
um estranho espectro, sempre mal dormido,
de pele transparente, na urbe perdido,

vagando, como um cara um pouco drogado,
indo dormir apenas na ira da alvorada,
de madrugada os amigos visitando, medonho,
duro, como um piolho, inseto do sonho,

por um naco de pele atraído ou por um suspiro.
Em que me converteriam, ainda não sabia,
esses poemas bobos, meu bem, e nem que
quem vai me trazer pra vida é justo você,

que graças a você serei visível, contigo vou deitar
e o instante em que teu sono vem vou esperar.

§

Nie ma końca

Nie ma końca świata – sprawdziłem i wiem:
za oceanem nowy ląd i ludzie
patrzący w perspektywę horyzontu,
który ugina się i wznosi. Inne
marzenia w sobotnim mieście, kawiarnie
i kina płoną tysiącem głów. Nie ma
końca płaczu w ciemnej poczekalni
i podróż nie kończy się nawet we śnie.

Jest koniec świata – sprawdziłem to i wiem:
za łóżkiem, w którym przewracasz się jeszcze
o wpół do piątej rano – już przez okno
wchodzi nieprzytomne światło – wyciągasz
mokra rękę i nie spotykasz tam nic.
Ani ciepłego ciała, ani ściany.
Chciałem powiedzieć ci wtedy, że jestem.
W ten niewytłumaczalny sposób, jestem.

Não há fim

Não há o fim do mundo – chequei isso e sei:
depois do oceano, nova terra e gente,
que olha na perspectiva do horizonte
que se dobra e se eleva. Outros
sonhos na cidade no sábado, cafés
e cinemas se inflamam com mil cabeças. Não há
o fim do choro na sala de espera escura
e a viagem não termina nem no sonho.

Há o fim do mundo – chequei isso e sei:
atrás da cama na qual rolas ainda
às quatro e meia da manhã – pela janela já
entra a luz inconsciente – estendes
a mão molhada e não encontras nada lá.
Nem o corpo cálido, nem a parede.
Queria te dizer naquele momento que existo.
Daquela maneira inexplicável, existo.

§

Mrówki i rekiny

Dla A. B.

Mrówka pożera larwę, według praw natury
a dziecko zjada mrówkę – trochę szczypie w język,
ciekawość zawsze szczypie. Dziecko połknie rekin
na rajskiej plaży Goa, lecz widzi to z góry

Bóg i złapie rekina, tak jak łapie szczura,
tygrysicę i słonia. Boga zaś poeta
pożre w swoim pokoju, on będzie niestety
żywić się wszystkim. Potwór, podobny do knura,

pęcznieje i wydala. Żywi się papierem,
lecz wpuśćcie go do domu, a znajdzie w pościeli
ukryte ślady po snach, po miłości – skradnie
to, co macie świętego, przeżuje, obrośnie

od tego białym mięsem i trującym włosiem,
wystarczy tylko dotknąć, otrzeć się przypadkiem.

Formigas e tubarões

Para A.B.

A formiga devora a larva pelas leis da natura
e a criança come a formiga – na língua pica um pouco,
curiosidade sempre pica. E o tubarão engole a criança
na praia linda em Goa, mas vê isso das alturas

Deus e pega o tubarão, como pega um ratão
uma aliá ou um tigre. E, Deus, a seu tempo
é devorado pelo poeta que, em seu aposento,
um monstro onívoro como um varrão,

incha-se e excreta. Ele come o papel,
mas deixem-no entrar e na cama encontrará
ocultos vestígios de sonhos, de amores – roubará
o que há de sagrado, roerá e criará

disso a carne branca e o pelo peçonhento,
basta apenas roçá-lo, tocar por acaso.


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