Glosas sobre motes de pichações: Elaine Puta – adriano scandolara

Creio que seja necessário alguma explicação antes da leitura do meu poema de hoje: não, caras leitoras, não se trata de misoginia descarada e, não, eu não fui traído por nenhuma Elaine.

Recentemente tenho escrito alguns poemas tomando como base pichações muito interessantes nas ruas de Curitiba. Cinco deles foram publicados na edição 3 da Revista Babel, disponível online gratuitamente neste link – meus poemas estão na página 53, mas vale a pena conferir a revista inteira, não tanto pela escrita deste ilustre desconhecido que vos fala, quanto pela presença de nomes de peso como Tarso de Melo, Ademir Assunção e Age de Carvalho, ao lado dos quais é uma honra ser apresentado. A ideia, como se pode ver, é comentar, responder e, em geral, brincar mesmo com a temática e a linguagem das frases pichadas, i.e., fazer glosas sobre os motes pichados, de modo semelhante ao de uma certa tradição de composição poética.

O poema abaixo, então, é inspirado por um fenômeno ubíquo e famoso das ruas de Curitiba, conforme pode ser observado neste blogue, de onde as imagens aqui foram tiradas.

 

ELAINE PUTA
cada muro grita
Elaine Puta
            em toda esquina
letra escarlate, eretos           
                                    Elaine Puta
postes.
Pintaram branco em cima,
                                          Elaine
urra pedra em fúria
                                    Puta
permanece.
Elaine
que você e Catulo amaram em becos e vielas descasca
Puta
agora os netos de nobre Remo.

Mas não Elaine se conserta
nem mesmo com todos os Puta vitupérios do mundo
a elaine impotência
do orgulho de macho puta
                                          ferido,
no silêncio elaine da
tinta encerrado puta.

Adriano Scandolara.

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