“A Segunda Vinda” de Yeats na Eutomia

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Saiu esta semana o vol. 1, n. 11 (jan/jun. 2013) da revista Eutomia. Pode-se acessar a tabela de conteúdos dela clicando aqui.

De minha parte, eu contribuí com a tradução de um dos poemas mais famosos do irlandês William Butler Yeats (1865 – 1939), “The Second Coming”, que reproduzo abaixo, junto com o original. Mas é óbvio que tem bem mais coisas legais por lá, incluindo um artigo interessantíssimo de autoria do poeta e tradutor Claudio Willer sobre poetas malditos, de Nerval a Baudelaire a Piva (aqui).

E aproveitando que estamos falando da Eutomia, numa edição anterior (edição 10, ano V, dez/2012), três de nós do escamandro (eu, o Guilherme e o Vinicius) contribuímos com um artigo sobre a nossa tradução do Paraíso Reconquistado de John Milton (clique aqui).

Bem, para não deixar este post muito sem nexo, só digo que de Milton a Yeats, há, segundo o crítico Harold Bloom, uma linhagem direta na ordem de influência, que passa por Shelley no meio do caminho. E, para efeitos de contraste, compartilho também a tradução de Paulo Vizioli, do (raro) volume W. B. Yeats (Cia. das Letras, 1992), à qual, digo desde já, acabei não tendo acesso quando fiz a minha, ainda que os resultados tenham sido bastante parecidos em alguns versos.

Adriano Scandolara

           

A Segunda Vinda

Gira e gira no vórtice crescente
Não escuta o falcão ao falcoeiro;
As coisas vão abaixo; o centro cede;
Mera anarquia é solta sobre o mundo,
Solta a maré de sangue turva, afoga-se
Por toda parte o rito da inocência;
Falta fé aos melhores, já os piores
Se enchem de intensidade apaixonada.

Por certo, há revelações a vir;
Por certo, há a Segunda Vinda a vir.
Segunda Vinda! Mal saem tais palavras,
E a vasta imagem do Spiritus Mundi
Perturba-me a visão: lá no deserto
Um vulto de leão com rosto de homem,
O olhar vago, impiedoso como o sol,
As lentas coxas move, tendo em torno
Sombras de iradas aves do deserto.
Cai a treva outra vez, mas ora sei
Que o pétreo sono de seus vinte séculos
Vexou-se ao pesadelo por um berço.
Que besta bruta, de hora enfim chegada,
Rasteja até Belém para nascer?

(tradução de Adriano Scandolara)

           

A Segunda Vinda

Girando e girando a voltas crescentes
O falcão não escuta o falcoeiro.
Tudo se parte, o centro não sustenta.
Mera anarquia avança sobre o mundo,
Marés sujas de sangue em toda parte
Os ritos da inocência sufocados.
Os melhores sem suas convicções,
Os piores com as mais fortes paixões.

É certo, está perto a revelação;
É certo, está perto a Segunda Vinda.
Segunda Vinda! Mal digo as palavras
E a imagem vasta do Spiritus Mundi
Turva-me a vista: no pó de um deserto
Um corpo de leão de crânio humano,
O olhar vazio e duro como o sol,
Move as pernas pesadas, e ao redor
Rondam sombras de pássaros coléricos.
Volta a escuridão; mas eu sei agora
Que o sono pétreo desses vinte séculos
Deu em sonho mau no embalo de um berço.
Qual besta rude, vinda enfim sua hora,
Arrasta-se a Belém para nascer?

(tradução de Paulo Vizioli)

           

The Second Coming

Turning and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.

Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again; but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?

(poema de Yeats, traduções de Adriano Scandolara e Paulo Vizioli)

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