3 elegias de sexto propércio

sátiro e ninfa nos prelúdios do sexo. mosaico de pompeia.
sátiro e ninfa nos prelúdios do sexo. mosaico de pompeia.

então logo abaixo vai um mínimo trecho da apresentação, 3 poemas (dos mais de 90) & algumas notas adaptadas ao blog. os 3 poemas formam um ciclo importante do primeiro livro de elegias & neles propércio discute a importância da poesia amorosa, num tom irônico, como é seu praxe.

guilherme gontijo flores

ps: a edição deve sair no primeiro semestre do ano que vem.

* * *

APRESENTAÇÃO

Sobre a vida de Propércio, temos pouquíssimas informações, e a maioria derivada da sua própria poesia, o que aumenta ainda mais o grau de desconfiança sobre esses dados. Porém, se tivéssemos que fazer um apanhado, ficaria mais ou menos assim: nascido em torno de 50 a.C. de uma família nobre, Sexto Propércio vem da Úmbria (próximo à atual Assis); devido às guerras civis, sua família perdeu parte das terras, que foram confiscadas por Otaviano e Marco Antônio (cf. as elegias 1.21, 1.22 e 4.1, além de Virgílio Bucólicas 1 e 9), o que levou a família ao empobrecimento, mas não à miséria; se confiarmos ainda em 1.21 e 1.22, sabemos que a família sofreu profundamente com a Guerra  da Perúsia, em 41 e 40 a.C.  Ao que tudo indica, o poeta perdeu seu pai ainda jovem (4.1), mas recebeu a educação formal da elite romana, provavelmente em Roma, com o típico objetivo de trabalhar na advocacia. Por fim, ainda jovem ele se voltou para a poesia, e não temos quaisquer dados sobre a existência de carreira profissional desvinculada da escrita.

Em 29 a.C. é publicado seu primeiro livro de elegias (talvez intitulado Amores, mas comumente conhecido como Cynthia monobiblos) dedicado inteiramente à sua amada Cíntia, e que parece ter feito sucesso imediato. A figura de Cíntia é um grande problema interpretativo, se considerarmos sua existência biográfica como amante de Propércio: Apuleio, mais de um século depois da morte do poeta, em Apologia 10, afirmaria que sob a máscara de Cíntia estaria velada uma certa jovem romana chamada Hóstia; no entanto a maioria dos comentadores tende, hoje, a descartar leituras biográficas da elegia romana. E acrescento: mesmo que houvesse uma ou várias mulheres que motivassem a escrita de Propércio, sua artificialidade, seu enquadramento dentro das diversas regras e lugares comuns do gênero elegíaco, tudo isso aponta para uma autoconsciência literária muito profunda; e assim a biografia estaria, e muito, submetida à poesia, e não o contrário.

Em seguida, entre 26-23 a.C., Propércio publica os livros II  e III, talvez sob o patronato de Mecenas. Por fim, o livro IV, talvez sob o patronato do próprio Augusto, sai em cerca de 16 a.C. Na falta de maiores informações, costuma-se assumir que Propércio deve ter falecido por volta de 15 a.C., com cerca de 35 anos.

Sua poesia ganhou fama de obscura, difícil e excessivamente mítica, por vários leitores; seu estilo é complexo, e não à toa Ezra Pound identificaria nele uma espécie de precursor da  logopoeia, que, para o poeta americano, só viria a se desenvolver completamente quase dois mil anos depois, com as obras fin de siècle de Corbière e Laforgue. Muitas vezes construções inesperadas tomam conta do texto, uma ironia sutil desconstrói expectativas e com frequência deixa o leitor sem base para fazer julgamentos firmes sobre uma possível verdade da poesia expressa pelos poemas. Assim, Propércio já foi considerado romântico, político engajado (pró e contra o Império augustano), sincero em suas paixões, artificial na escrita, simbolista avant la lettre, modernista romano, entre outros extremos.

um graffiti de pompeia, onde alguém dedica um dístico de propércio a uma jovem chamada modesta, para anunciar o rompimento. a tradução do dístico seria a seguinte: "Agora a ira é nova — é hora de rompermos!     Se a dor sumir, assomará o Amor."
Um graffiti de Pompeia, um dístico de Propércio, dedicado a alguém chamada Modesta, anuncia o rompimento. A tradução seria:          Agora a ira é nova — é hora de rompermos!
Se a dor sumir, assomará o Amor.

TRÊS ELEGIAS

1.7

Dum tibi Cadmeae dicuntur, Pontice, Thebae
….armaque fraternae tristia militiae,
atque, ita sim felix, primo contendis Homero
….(sint modo Fata tuis mollia carminibus),
nos, ut consuemus, nostros agitamus Amores 
….atque aliquid duram quaerimus in dominam;
nec tantum ingenio quantum seruire dolori
….cogor et aetatis tempora dura queri.

Hic mihi conteritur uitae modus, haec mea Fama est,
….hinc cupio nomen carminis ire mei. 
Me laudent doctae solum placuisse puellae,
….Pontice, et iniustas saepe tulisse minas;
me legat assidue post haec neglectus amator,
….et prosint illi cognita nostra mala.

Te quoque si certo puer hic concusserit arcu 
….(quam nollim nostros te uiolasse Deos!),
longe castra tibi, longe miser agmina septem
….flebis in aeterno surda iacere situ;
et frustra cupies mollem componere uersum,
….nec tibi subiciet carmina serus Amor. 
Tum me non humilem mirabere saepe poetam,
….tunc ego Romanis praeferar ingeniis;
nec poterunt iuuenes nostro reticere sepulcro:
….“Ardoris nostri magne poeta, iaces?”

Tu caue nostra tuo contemnas carmina fastu: 
….saepe uenit magno faenore tardus Amor.

1.7

Enquanto cantas, Pôntico, a Tebas de Cadmo
….e as armas tristes do fraterno exército
e — quem dera fosse eu! — competes com Homero
….(que os Fados sejam leves com teus cantos!);
eu, como de costume, fico em meus Amores
….e busco combater a dura dona,
mais escravo da dor do que do meu talento,
….e lamento o infortúnio desta idade.

Assim eu passo a vida, assim é minha Fama,
….aqui desejo a glória do meu canto:
louvado — o único que agrada à moça culta
….e aguenta injustas ameaças, Pôntico.
Que amiúde me leia o amante repelido
….e encontre auxílio ao conhecer meus males.

Se o menino certeiro também te flechar
….(se ao menos não violasses nossos Deuses!),
dirás adeus quartéis, adeus aos sete exércitos
….que jazem surdos no sepulcro eterno
e em vão desejarás compor suaves versos,
….pois tardo Amor não te dará poemas.
Então te espantarás: não sou poeta humilde,
….entre os mais talentosos dos Romanos;
jovens não poderão calar-se ante meu túmulo:
….“Grande poeta do nosso ardor, morreste?”

Evita desprezar meus cantos com orgulho:
….o Amor tardio cobra imensos juros.

1.8

Tune igitur demens, nec te mea cura moratur?
,,,,An tibi sum gelida uilior Illyria?
Et tibi iam tanti, quicumquest, iste uidetur,
….ut sine me uento quolibet ire uelis?
Tune audire potes uesani murmura ponti 
….fortis et in dura naue iacere potes?
Tu pedibus teneris positas fulcire pruinas,
….tu potes insolitas, Cynthia, ferre niues?

O utinam hibernae duplicentur tempora brumae,
….et sit iners tardis nauita Vergiliis, 
nec tibi Tyrrhena soluatur funis harena,
.neue inimica meas eleuet aura preces 
et me defixum uacua patiatur in ora 
….crudelem infesta saepe uocare manu!

Sed quocumque modo de me, periura, mereris,
….sit Galatea tuae non aliena uiae; 
atque ego non uideam talis subsidere uentos, 
….cum tibi prouectas auferet unda ratis, 
ut te, felici praeuecta Ceraunia remo, 
….accipiat placidis Oricos aequoribus! 

Nam me non ullae poterunt corrumpere de te
….quin ego, uita, tuo limine uerba querar;
nec me deficiet nautas rogitare citatos:
….“Dicite, quo portu clausa puella mea est?”,
et dicam “Licet Artaciis considat in oris, 
….et licet Hylaeis, illa futura mea est.”

Hic erit! Hic iurata manet! Rumpantur iniqui!
….uicimus: assiduas non tulit illa preces.
Falsa licet cupidus deponat gaudia Liuor:
….destitit ire nouas Cynthia nostra uias. 

Illi carus ego et per me carissima Roma
….dicitur, et sine me dulcia regna negat.
Illa uel angusto mecum requiescere lecto
….et quocumque modo maluit esse mea,
quam sibi dotatae regnum uetus Hippodamiae, 
….et quas Elis opes apta pararat equis.

Quamuis magna daret, quamuis maiora daturus,
….non tamen illa meos fugit auara sinus.
Hanc ego non auro, non Indis flectere conchis,
….sed potui blandi carminis obsequio.

Sunt igitur Musae, neque amanti tardus Apollo,
….quis ego fretus amo: Cynthia rara mea est!
Nunc mihi summa licet contingere sidera plantis:
….siue dies seu nox uenerit, illa mea est!
Nec mihi riualis certos subducit Amores:
….ista meam norit gloria canitiem.

1.8

Enlouqueceste? Não te prendem meus carinhos?
….Te importo menos que a Ilíria gélida?
E quem é esse que parece valer tanto,
….que num vento qualquer, sem mim tu segues?
Tu podes escutar o mar insano e múrmure, 5
….podes deitar sem medo em dura barca?
Tu pousarás teus tenros pés sobre a geada,
….tu suportas, ó Cíntia, a estranha neve?

Quero que dobre o tempo da bruma invernal,
….que pare o nauta e atrasem as Vergílias, 10
que a corda não se solte da areia Tirrena,
….nem brisa imiga anule as minhas preces 12
e eu parado, pregado no porto deserto, 15
….ameaçador, gritando que és cruel!

Mas mesmo que mereças mal de mim, perjura,
….que Galateia ampare tua viagem! 18
Não quero ver arrefecerem esses ventos 13
….quando a onda embalar teu barco avante; 14
ao dobrar o Ceráunio com remo seguro, 19
….que as águas calmas do Órico te acolham! 20

Pois nenhuma mulher poderá me impedir
….de lamentar, querida, à tua porta;
nem deixarei de perguntar aos marinheiros:
….“Dizei — que cais retém a amada minha?”
Direi: “Pode estar presa nas margens Artácias, 25
….ou nas Hileias, ela será minha!”

Aqui fica! Jurou ficar! Adeus, rivais!
….Venci! Ela cedeu a tantas súplicas.
Pode a cúpida Inveja depor falsos gozos:
….minha Cíntia largou a nova estrada. 30

Diz que me adora e que por mim adora Roma,
….sem mim renega haver um doce reino.
Prefere repousar comigo em leito estreito
….e ser só minha — não importa como —
a ter por dote um reino, como Hipodamia, 35
….e os bens que em seus corcéis ganhara Élida.

Inda que ofertem muito, inda que mais prometam,
….não foge do meu peito por cobiça.
Não a ganhei com ouro ou pérolas da Índia,
….mas com o agrado de um suave canto. 

Existem Musas! Febo não tarda a quem ama!
….Neles confio — Cíntia rara é minha!
Hoje posso pisar sobre os astros mais altos:
….que venha o dia e a noite — ela é minha!
Não há rival que roube meu Amor seguro:
….ah! essa glória vai me ver grisalho.

1.9

Dicebam tibi uenturos, irrisor, Amores,
….nec tibi perpetuo libera uerba fore:
ecce taces supplexque uenis ad iura puellae,
….et tibi nunc quaeuis imperat empta modo.
Non me Chaoniae uincant in Amore columbae 5
….dicere, quos iuuenes quaeque puella domet.
Me dolor et lacrimae merito fecere peritum:
….atque utinam posito dicar Amore rudis!

Quid tibi nunc misero prodest graue dicere carmen
.aut Amphioniae moenia flere lyrae? 10
Plus in Amore ualet Mimnermi uersus Homero:
….carmina mansuetus lenia quaerit Amor.
I, quaeso, et tristis istos sepone libellos,
….et cane quod quaeuis nosse puella uelit!
Quid si non esset facilis tibi copia? Nunc tu 15
….insanus medio flumine quaeris aquam.

Necdum etiam palles, uero nec tangeris igni:
….haec est uenturi prima fauilla mali.
Tum magis Armenias cupies accedere tigris
….et magis infernae uincula nosse rotae, 20
quam pueri totiens arcum sentire medullis
….et nihil iratae posse negare tuae.
Nullus Amor cuiquam facilis ita praebuit alas,
….ut non alterna presserit ille manu.

Nec te decipiat, quod sit satis illa parata: 25
….acrius illa subit, Pontice, si qua tua est;
quippe ubi non liceat uacuos seducere ocellos,
….nec uigilare alio limine cedat Amor.
Qui non ante patet, donec manus attigit ossa:
….quisquis es, assiduas a fuge blanditias! 30
Illis et silices et possint cedere quercus,
….nedum tu possis, spiritus iste leuis.

Quare, si pudor est, quam primum errata fatere:
….dicere quo pereas saepe in Amore leuat.

1.9

Eu te disse, palhaço — Amores chegariam
….e não terias mais palavras livres.
Eis que te calas suplicante sob as leis
….dessa recém-comprada que te impera.
Como as pombas Caônias eu canto no Amor
….que jovens cada moça amansará.
Pranto e dor me tornaram perito por mérito,
….mas antes sem o Amor eu fosse um leigo!

De que vale, infeliz, cantar solene agora
….chorando os muros que fizera Anfíon?
No Amor melhor que Homero é um verso de Mimnermo:
….suaves cantos busca o manso Amor.
Vai, eu te peço, e larga esses tristes livrinhos
….e canta algo que a moça queira ouvir!
O que farás se te faltar assunto? Agora,
….insano, em pleno rio pedes água.

Não estás pálido, não viste ainda o fogo:
….são só fagulhas do teu mal vindouro.
Então preferirás brincar com tigre Armênio
….e na roda infernal acorrentar-te 20
do que sentir na espinha o arco do menino
….sem poder negar nada à moça irosa.
Nenhum Amor deu asas fáceis para alguém
….sem também o oprimir com a outra mão.

Não acredites se ela parecer disposta —
….mais te consome, Pôntico, ao ser tua:
não poderás correr teus olhos livremente,
….o Amor não deixará que veles outra.
Não podemos senti-lo até que atinja os ossos:
….quem quer que sejas, foge das carícias!
A elas cederiam pedras e carvalhos —
….e tu, sopro ligeiro, mais ainda.

Por fim, se tens pudor, confessa logo os erros:
….contar as dores alivia o Amor.

* * *

NOTAS

 1.7

Esta elegia dirigida ao poeta épico Pôntico (que supostamente teria escrito uma Tebaida, cuja referência aparece também em Ovídio, Amores 2.18 e Tristia 4.10.47-8) dialoga diretamente com 1.9, onde vemos que as profecias de Propércio se cumprem. Não obstante, o poema 1.8, que gera um intervalo entre os dois, já foi indicado como configurador de uma tríade entre as elegias 7-8-9, bem representados por Aires A. Nascimento como “a poesia amorosa não deve ser tida em menor conta (7); o seu desprezo leva a resultados funestos (8); a poesia amorosa tem uma função moderadora (9)”. Vale notar como a tópica da utilidade da poesia entra na defesa da elegia contra a épica praticada por Pôntico, o que leva o poema à proposta da elegia como modo de vida.

v. 2: O fraterno exército nos remete ao combate entre os irmãos Etéocles e Polinices, filhos de Édipo, pelo poder de Tebas, principal assunto dos Sete contra Tebas de Ésquilo e também da Tebaida na versão de Estácio.

v. 3: Propércio pode referir-se ao fato de que a mais antiga Tebaida era, na Antiguidade, atribuída a Homero, junto com outros poemas do Ciclo Épico de que só nos restaram fragmentos.

v. 26: A temática do amor tardio que causa mais sofrimento aparece também em Tibulo 1.2.87-8 e Ovídio, Heroides 4.19.

1.8

Esta elegia começa abruptamente, como várias outras, e se constrói como um skhetliasmos (protesto contra viagem) a Cíntia, que foge com um rival, mas que depois se torna ironicamente um propemptikon (um desejo de boa viagem). Também tece um diálogo com 2.16, quando o mesmo rival retorna da Ilíria, identificado como um pretor, portanto um homem de vida pública e detentor de bens — o típico rival do amante elegíaco.

vv. 7-8: A semelhança entre estes versos e os de Virgílio, Bucólicas 10.23-4 (tua cura Lycoris / perque niues alium perque horrida castra secuta est? (“Tua paixão Licóris / por entre neve e guerra segue um outro?”)) e 10.49 (a tibi ne teneras glacies […] secet aspera plantas (“que áspero gelo não te corte os frágeis pés”)) faz cogitar que os dois trechos sejam imitação da poesia de Cornélio Galo, fundador da elegia erótica romana.

v. 10: As Vergílias são as Plêiades, cujo aparecimento, em 16 de abril, anunciava a chegada a primavera, a melhor estação para a navegação.

v. 18: Galateia é a mais famosa das Nereidas, deusas do mar, filhas de Nereu.

vv. 19-20: Ceráunio é um perigoso promontório da Acroceráunia, na costa de Epiro; Órico é um porto da Ilíria, nas margens do Epiro.

vv. 25-26:  Heyworth aponta para o fato de que Propércio cita os Ceráunios e Óricos (dois pontos que aparecem na viagem de volta dos argonautas, Apolônio de Rodes Argonautica 4.1214-5), enquanto a Artácia (1.957) aparece na ida, além da Hileia (4.524), que seria ser um povo da Ilíria. Nesse caso, as referências a pontos distantes também seriam uma referência literária, que remetem a uma viagem de ida e volta, fato que se realiza dentro da elegia properciana a partir dos versos seguintes, com a desistência de Cíntia.

vv. 35-6: Hipodamia era filha de Enomau, rei de Pisa na Élida, e esposa e Pélops.

v. 40: A referência à elegia como blandum carmen (“suave canto”) parece retomar o debate apresentado nos poemas 1.7 e 1.9, dirigidos a Pôntico.

1.9

O poema é clara continuidade de 1.7, após o intervalo de 1.8, de modo que os três formam um pequeno conjunto em que vemos as ameaças de Propércio ao gênero épico (1.7); seu próprio risco de falhar, mas resultando no sucesso de manter Cíntia (1.8), representando seus poderes como poeta elegíaco; e a derrota final de Pôntico, agora apaixonado por uma escrava, ou prostituta (1.9), incapaz de continuar sua carreira de poeta épico, mas também incapaz de iniciar uma poesia elegíaca, por já ser tarde demais. Vitorioso, Propércio inicia seu trabalho de magister amoris.

vv. 5-6: A Caônia era uma região do Epiro, mas a referência específica é a Dodona, onde havia um oráculo de Zeus, que se realizava por meio do auspício de pombas. Vale recordar que as sacerdotisas também recebiam o nome de pombas (columbae).

v. 4: Há duas leituras para modo empta, como notam Butler & Barber, que tentei manter quanto pude. Trata-se a) de uma escrava “recém-comprada”; ou b) de uma prostituta, que até então estava à venda.

v. 8: Anfíon é o bardo mítico que teria construído a muralha de Tebas apenas com o poder de sua lira, com a qual ele guiava as pedras. Em 1.7.2 (cf. nota), vimos que Pôntico escrevia uma Tebaida.

v. 11: Mimnermo é um poeta elegíaco grego arcaico, com temática amorosa e sobre a juventude. Aqui Propércio usa-o para fazer uma oposição fundamental entre elegia e épica, atestando a utilidade daquela sobre esta, bem como sua brevidade: mais valeria apenas um verso de Mimnermo do que toda a obra de Homero.

vv. 15-16: “Pedir água no meio do rio” é um provérbio grego muito citado pelos romanos como sinal de loucura, mas aqui também tem a conotação metafórica do rio caudaloso simbolizar a poesia épica.

v. 20: Ixíon fora preso por Júpiter a uma roda cercada de serpentes, sempre a rodar, no mundo dos mortos, porque tentara estuprar Juno.

(poemas de sexto propércio, apresentação, tradução & notas de guilherme gontijo flores)

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