A pornochanchada medieval do Alfabeto de Ben Sirá

Jeremias
O profeta Jeremias, pai de Ben Sirá, representado por Michelangelo na Capela Sistina

Eu gostaria de aproveitar a série de postagens do Gontijo sobre o que ele tem chamado de uma poética da prosa para apresentar para vocês uma pequena seleção de um livrinho muito, muito bizarro produzido pela cultura judaica medieval. Se recorro a um termo claramente anacrônico como pornochanchada – e não meramente “burlesco” – para descrevê-lo é só porque de fato somente o espírito da produção cinematográfica brasileira dos anos 80/90 pode fazer jus ao nível de bobagem que encontramos no Alfabeto de Ben Sirá. Sacanagem você encontra em tudo quanto é texto medieval, dos fabliaux às Carmina Burana, mas com Ben Sirá estamos realmente em outro nível de nonsense. Mas estou me adiantando.

Antes de mais nada, quem foi Ben Sirá? Segundo o folclore judaico (e quem me cita essas coisas são fontes sérias como Aryeh Kaplan), o profeta Jeremias teria sido atacado por um bando de tarados numa casa de banho, que o forçaram a se masturbar (sim, a história já começa nesse nível). O sêmen ejaculado permaneceu numa das banheiras até que mais tarde sua filha veio banhar-se e acabou engravidando do pai. O filho a princípio se chamaria não Ben Yiermeyahu (filho de Jeremias), como deveria ser, mas Ben Zera (filho da semente), pela natureza incestuosa de seu nascimento. No entanto, o constrangimento o levou a se rebatizar como Ben Sirá (e Sirá, um superlativo de sar, “oficial”, tem o mesmo valor numerológico que o nome Jeremias). Nas tradições místicas, Ben Sirá teria sido o companheiro de Jeremias em seus estudos esotéricos (a Cabala desencoraja que se estude essas coisas sozinho). Enfim, esse é o ponto de partida. E, ah, apesar de terem o mesmo nome Ben Sirá (סירא), é importante não confundir este Ben Sirá filho de Jeremias (que teria vivido no século 6 a.C., época da queda de Jerusalém) com o Ben Sirá autor do livro deuterocanônico de Eclesiástico, que viveu no período helenístico.

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Página de um manuscrito de 1822 do Alfabeto de Ben Sirá encontrado no Irã (fonte)

O Alfabeto de Ben Sirá (Othijoth ben Sira), por sua vez, é um texto medieval anônimo, composto em hebraico e aramaico no mundo árabe entre os séculos 8 e 11 de nossa era, detalhando a vida desse personagem curioso. Ele é representado, assim como seu pai (Jer. 1:6-7), como uma criança capaz de falar de modo perfeitamente eloquente desde o berço. No entanto, o efeito que se tem é menos “criança profética” e mais, digamos, Stewie do Uma Família da Pesada. O parco enredo que temos aqui descreve como Ben Sirá já nasce sabendo falar e humilha seus professores, rapidamente dominando todos os estudos dos textos sagrados – primeiro a Torá (e ele teria dominado o Levítico, considerado o livro mais difícil da Bíblia, em um dia), depois o restante da Bíblia e toda a literatura rabínica adicional (Mishná, Talmude, agadá…). Então ele é levado, como a figura de Daniel no livro bíblico homônimo, à corte do rei da Babilônia, Nabucodonosor, onde se passam vários episódios esdrúxulos.

O livro se estrutura com um prólogo, que fala dos grandes sábios que foram concebidos sem que sua mãe se deitasse com um homem – são eles o Rabbi Pappa, o Rabbi Zera e, claro, Ben Sirá. Então, temos a narrativa de sua concepção e nascimento, e a tentativa frustrada de um rabino de alfabetizá-lo. Segue-se um trecho de poesia acróstica, em que, para cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico ele replica com um verso que começa com aquela letra (e a tréplica do rabino vem na forma de reclamações conjugais). Depois, vem a narrativa em que Nabucodonosor o leva para sua corte e da tentativa dos sábios, que o invejam, de matá-lo. Por fim, temos 22 vinhetas (uma para cada letra do alfabeto também) em que o rei tem algum tipo de dúvida ou problema, que Ben Sirá resolve engenhosamente. E, é óbvio, há sexo ou escatologia em boa parte dessas vinhetas, ainda que não em todas (tem uma ou outra mais inocente).

O estilo do texto é todo paródico de um gênero da literatura rabínica que é o agadá, narrativas folclóricas e muitas vezes de teor moral, que se diferenciam de outros textos do Midrash e do Talmude que tratam de questões teológicas e de lei. Ele faz também citações constantes de versículos bíblicos e de literatura rabínica, que parecem sobretudo surgir em momentos inadequados e completamente banais. Como, por exemplo, quando ele conversa com sua mãe, no prólogo:

“Por que me interrompes, meu filho?” sua mãe perguntou.

“Porque sabes que tenho fome e nada me dás de comer”.

“Aqui, toma meus seios. Come e bebe”.

“Não tenho qualquer desejo pelos teus seios. Vai e peneira a farinha, amassa o pão fino e pega carne gorda e vinho envelhecido – e poderás comer comigo!”

“E o que farei para comprar essas coisas?”

“Faz umas roupas e vende-as. Assim, terás cumprido o versículo, ‘Faz panos de linho fino e vende-os’ (Provérbios 31:24). E se também me sustentares, terás cumprido o versículo, ‘Muitas filhas têm procedido virtuosamente, mas tu és, de todas, a mais excelente!’ (Provérbios 31:29)”.

E a forma acróstica dos trechos alfabéticos também é paródica da estrutura das Lamentações, onde se pode observar que os versos começam com álef, depois bet, depois guimel, dálet, etc. Enfim, o livro inteiro é constituído assim, numa mistura de paródia, bastante erudita, de situações e estilos bíblicos e rabínicos com trocadilhos, fábulas animais à moda de Esopo, humor sexual/escatológico e nonsense. Esse teor erudito, combinado a uma falta de um enredo maior que estruture o livro (além da poética do acróstico) e indicasse algum propósito polêmico mais claro (como tem, por exemplo, um livro como o Toledot Yeshu, narrativa da Antiguidade Tardia que satiriza os Evangelhos e representa Jesus como um charlatão), é um sinal de que é muito provável que o Alfabeto tenha sido composto e circulado entre rabinos, como um tipo de piada interna.

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Tigela de encantamento antiga com fórmulas mágicas. Objetos como esses eram enterrados sob as casas no Antigo Oriente Médio para afastar maus espíritos.

O mais surpreendente, porém (e aqui é o ponto onde repousa talvez a maior relevância imediata de se reproduzir este texto), é que muitos de vocês já têm alguma familiaridade com uma das narrativas de Ben Sirá sem o saber. Muitos já ouviram falar da história de Lilith como primeira mulher de Adão e há quem misture essa história ainda com a confusão dela com deusas da fertilidade da Antiguidade (Ištar/Inana) e coisa assim. Pois bem, sem entrar muito em detalhes aqui, lilith (plural liloth) não é um nome próprio na cultura do período bíblico (mencionado em Isaías 34:14), mas um tipo de demônio (o que não é de se surpreender no contexto do Antigo Oriente Médio, dado que, para cada doença que você pode conceber, os babilônicos tinham um respectivo demônio associado a ela) que causa morte de crianças. Ela se torna uma figura com nome próprio de forma mais definida no período medieval (é a esposa de Samael, outro nome de Satã, na Cabala), mas o único texto que a representa como primeira mulher de Adão é o Alfabeto de Ben Sirá, que, segundo o Rabbi Geoffrey Dennis, foi redescoberto pelo público mais geral no século XIX e prontamente confundido com um texto esotérico (com certeza, resultado do furor do ímpeto ao misticismo do período). Sim, aquilo que todo adolescente já cochichou com ares conspiratórios em tom de “sabia que Adão teve uma primeira mulher que não está na Bíblia e que todo mundo esconde?” veio do equivalente narrativo, no mundo rabínico, àquelas ilustrações pornográficas e absurdas que os monges desenhavam nas margens dos manuscritos. A historinha que vem logo depois é sobre a filha flatulenta de Nabucodonosor. Sério.

arvore_manuscritoTirando a parte óbvia da sacanagem, porém, de um ponto de vista mais propriamente literário, esse amplo uso de ironia e paródia, a estrutura episódica e fragmentária (tão associada ao modernismo e pós-modernismo) e o jogo de vozes (comparável ao de seu possível contemporâneo, o livro das Mil e Uma Noites… note, aliás, o uso triplo de aspas na narrativa número 18) são elementos com óbvio apelo a quem gosta de estudar essas coisas.

Enfim, uma tradução de uma das versões do Alfabeto (a transmissão dessa obra foi acidentada, por asism dizer) está disponível, em tradução inglesa, no volume Rabbinic Fantasies: Imaginative Narratives from Hebrew Literature, organizado por David Stern e Mark Jay Mirsky e que conta ainda com diversos outros textos como o apocalipse Sefer Zerubabel e contos de Judá ibn Shabbetai e Solomon ibn Saqbel. Com o fim de divulgar e popularizar mais esse textinho, eu selecionei alguns trechos do Alfabeto, a partir da segunda parte alfabética (obviamente incluindo o trecho sobre Lilith), e os traduzi para o português com base nessa edição.

(Adriano Scandolara)

 

O Alfabeto de Ben Sirá

(excertos)

 

I. Primeiro, ele [Nabucodonosor] lhe perguntou como [Ben Sirá] havia depilado os pêlos na cabeça da lebre.

“Com uma solução de cal”, respondeu Ben Sirá.

“De que tipo?”

Ben Sirá respondeu, “Uma solução depilatória de cal, composta de cal e arsênico. Salomão utilizou sua sabedoria para inventar essa solução nos dias de tua mãe, a rainha de Sabá. Quando ela veio trazendo presentes para Salomão para observar sua sabedoria, ele a achou muito atraente e quis dormir com ela. Mas Salomão descobriu que ela era muito peluda. Ele pegou a cal e o arsênico, amassou a mão a cal com uma faca, esmagou o arsênico e misturou tudo com água, e assim fez uma solução depilatória de cal. Então ele a lambuzou com a solução e a banhou, e os pêlos caíram. Ele teve relações com ela na hora mesmo. E ela disse a Salomão, ‘Eu não acreditava nessas coisas até que eu as vi com meus próprios olhos’”.

Nabucodonosor perguntou a Ben Sirá, “Como tu sabes disso tudo?”

“Sou um profeta”, ele respondeu. “O Eterno, bendito seja, revela a mim tudo que é desconhecido”.

(…)

 

V. Logo após, o jovem filho do rei adoentou-se. Disse Nabucodonosor: “Cura meu filho. Se não o fizeres, irei matar-te”. Ben Sirá de imediatou sentou-se e escreveu um amuleto com o Santo Nome e inscreveu nele os anjos encarregados da medicina via seus nomes, formas e imagens, e via suas asas, mãos e pés. Nabucodonosor olhou para o amuleto. “O que é isso?”

“Os anjos encarregados da medicina: Snvi, Snsvi e Smnglof. Depois que Deus criou Adão, que estava só, ele disse, ‘Não é bom que o homem esteja só’ (Gênesis 2:18). Então criou uma mulher para Adão, a partir da terra, como havia criado o próprio Adão, e a chamou de Lilith. Adão e Lilith imediatamente começaram a brigar. Ela disse, ‘Eu não ficarei por baixo’, e ele disse, ‘Eu não ficarei embaixo de ti, apenas em cima. Pois és digna apenas da posição inferior, enquanto a posição superior é minha’. Lilith respondeu, ‘Somos iguais um ao outro na medida em que fomos ambos criados da terra’. Mas eles não deram ouvidos um ao outro. Quando se deu conta disso, Lilith pronunciou o Nome Inefável e saiu voando no ar. Adão pôs-se a orar diante do seu Criador: ‘soberano do universo!’ ele disse, ‘a mulher que tu me deste fugiu’. De uma vez, o Eterno, abençoado seja, mandou esses três anjos para trazê-la de volta.

“Disse o Eterno a Adão, ‘Se ela concordar em retornar, tudo bem. Senão, ela deverá permitir que cem de seus filhos morram todos os dias’. Os anjos deixaram Deus e partiram em perseguição atrás de Lilith, a quem eles tomaram no meio do mar, nas águas poderosas aonde os egípcios estavam destinados a se afogar. Eles lhe disseram as palavras de Deus, mas ela não quis retornar. Os anjos disseram, ‘Iremos afogar-te no mar’.

“‘Deixai-me!’ ela disse, ‘eu fui criada apenas para causar doença em crianças. Se a criança for menino, terei domínio sobre ele por oito dias depois do seu nascimento, e, se menina, por vinte dias’.

“Quando os anjos ouviram as palavras de Lilith, eles insistiram que ela voltasse. Mas ela jurou para eles em nome do Deus eterno e vivo: ‘Sempre que eu vir a vós ou vossos nomes ou vossas formas num amuleto, não terei qualquer poder sobre aquela criança’. Ela também concordou em permitir que cem de seus filhos morressem todos os dias. De acordo, a cada dia cem demônios perecem, e por esse mesmo motivo escrevemos o nome dos anjos nos amuletos de recém-nascidos. Quando Lilith vê os nomes, ela se lembra do juramento, e a criança se reestabelece”.

 

VI. Alguns dias depois, o rei disse a Ben Sirá, “Eu tenho uma filha que expele mil peidos a cada hora. Que tu a cures!”

Ben Sirá respondeu, “Manda-a a mim pela manhã com seus criados e eu a irei curar”. Na manhã seguinte, ela veio com seus criados. Quando Ben Sirá a viu, começou a agir como se estivesse furioso.

“Por que estás furioso?” ela lhe perguntou.

“Teu pai decretou que eu devo expelir mil peidos em sua presença amanhã e no dia seguinte. Temo que ele possa querer dar-me a morte. Ele me deu uma extensão de três dias, mas ainda assim não sei o que fazer”.

“Não te preocupes”, ela disse. “Irei eu no teu lugar e expelirei mil peidos na frente dele para nós dois”.

“Se assim for o caso”, respondeu Ben Sirá, “fica comigo aqui por três dias e sem flatulência, para que os peidos estejam prontos no terceiro dia”. Cada vez que um peido estava por vir, a filha do rei se levantava numa perna e arregalava bem os olhos, conforme Ben Sirá lhe dizia o que fazer, e ela se continha e fechava a sua “boca” devagar, até que a flatulência cessou por completo. Após três dias, nenhum peido saiu de seu traseiro. Naquele dia, Ben Sirá a levou a seu pai, dizendo “Vai e expele mil peidos para o teu pai”. Ela se levantou diante do rei, mas foi incapaz de qualquer flatulência. O rei se levantou e beijou Ben Sirá.

 

VII. Ele indagou Ben Sirá, “Por que foram criados os peidos?”

“Se não fosse pela flatulência, as pessoas teriam diarreia e defecariam em suas roupas. Quando alguém sente que está para peidar, ele vai e atende às suas necessidades, de modo que não passará pelo constrangimento de sentar-se em roupas imundas.

(…)

 

XIII. “Por que o jumento urina sobre a urina de outro jumento, e por que ele cheira seu próprio excremento?”

“Quando Deus criou todas as coisas vivas, o jumento perguntou para si: ‘Por que o cavalo, a mula e tantas outras criaturas têm alívio do labor, enquanto eu sou obrigado a trabalhar geração após geração sem descanso? Oremos ao nosso Criador para que ele nos dê alívio. Senão, pararemos de procriar’.

Os jumentos oraram, mas suas preces não foram atendidas. Deus, porém, lhes disse, ‘Quando vossa urina fluir como rios de modo que um moinho possa correr nela, e o odor de seu excremento for como o aroma das especiarias, eu vos darei vossa paga’. E é por isso que eles cheiram seus excrementos e urinam desse jeito”.

(…)

 

XV. “Por que o cão reconhece seu mestre, mas o gato não?”

“‘Quem quer que coma de algo que o rato tenha roído esquecerá o que aprendera’ (B. Horayot 13a). É certo, portanto, que o gato, que come o próprio rato, não conhecerá seu mestre”.

(…)

 

XVIII. Nabucodonosor perguntou a Ben Sirá, “Por que o corvo copula pela boca?”

“Os sábios de Israel já discutiram sobre esta questão”, respondeu Ben Sirá. “Há os que digam que, porque o corvo copulou na arca, ele foi criado errado. Outros dizem que porque ele é perverso, um ladrão e uma peste, o corvo foi feito diferente de todas as outras criaturas. Um homem instruído uma vez chegou aos sábios enquanto eles discutiam esta questão e lhes disse: ‘Darei a vós prova pelas vossas palavras.

“‘Quando Noé estava na arca, ele queria mandar o corvo para ver se as águas tinham parado, mas o corvo fugiu da face de Noé e se escondeu sob a asa da águia para que Noé não o mandasse. Eles procuraram pelo corvo e depois que o encontraram sob a asa da águia, Noé disse, “Perverso! Vai e sai da arca para ver se as águas sobre a terra diminuíram”.

“‘O corvo disse a Noé, “De todas as aves tu não pudeste encontrar ninguém além de mim?”

“‘Noé respondeu, “Eu tenho autoridade apenas para mandar os pássaros cujas inicias do seu nome dizem ay, isto é, as letras ayin (ע) e iud (י), o que só pode ser as aves chamadas orev (עורב) , ‘corvo’, e yonah (יונה), ‘pomba’”.

“‘“Então, por que mandas o corvo e não a pomba?” perguntou o corvo.

“‘“Porque há uma cidade chamada Ai,” Noé respondeu, “e seus habitantes estão destinados a matar Jair, que declarou que o corvo é inadequado para o consumo, enquanto a pomba não”.

“‘O corvo respondeu com firmeza, “O único motivo pelo qual tu me mandas é para que eu morra e tu poderás ter relações com a minha esposa. Esse é o único motivo pelo qual fizestes todas as criaturas virem na arca com seu par”.

“‘Noé imediatamente respondeu rogando uma praga contra o corvo, “Que tu sejas amaldiçoado com a coisa de que me calunias. Que tu jamais copules com tua fêmea exceto pela boca”.

“‘Todos os animais da arca responderam, “Amém!”

“‘“O corvo exclamou, “Por que tu me amaldiçoaste? Irei te processar!”

“‘Noé respondeu: “Porque és um depravado, um tolo e lanças calúnias sobre os inocentes. Coisa perversa! Eu sequer coabito com a minha esposa, que foi criada em minha imagem e semelhança e me é permitida. Por que eu deveria coabitar com a tua fêmea, que não é em minha semelhança e me é proibida também?”

“‘“Por que me chamas de depravado?” pergunta o corvo.

“‘“És realmente um depravado, a julgar por tuas palavras”, Noé respondeu. “Não sou eu quem te deu má reputação”’.

“E desde aquela época então, o corpo copula pela boca como resultado da praga de Noé.”

(…)

XXII. “Por que a águia voa perto do céu, mais alto do que todas as outras aves?”

“Quando a águia saiu da arca, a fêmea parou na frente de uma outra ave que ela quis comer. Todos os animais disseram, ‘Quem deseja comer o seu amigo está sujeito à morte’. Eles a golpearam, depenaram suas asas e a atiraram no covil do leão. Mas Deus cuidou da águia, e o leão não a devorou.

Depois de um ano, as penas da asa da águia voltaram, e ela saiu voando. Os outros pássaros se reuniram e tentaram matá-la, mas o corvo a salvou de suas mãos com sua esperteza. Então ele copulou com a águia, que concebeu e gerou um filhote de águia. É por isso que o corvo é chamado orev (עורב) – porque misturou, iyrev (עירב), seu semên pela abundância de sua promiscuidade em todas as direções. O Eterno, abençoado seja, fez sua presença pairar sobre ela para que sua criatura não fosse destruída, e ele lhe deu a força para voar mais alto do que todos os outros pássaros. A águia é portanto chamada nesher (נשר), porque Deus veio morar, hishrah (השרה), sobre ela. É por isso que a águia voa tão alto, de modo que seus inimigos jamais possam capturá-la e matá-la e fazer com isso com que uma espécie das criaturas do Eterno desapareça do mundo”.

Nabucodonosor disse a Ben Sirá, “Abençoado aquele que deu de sua sabedoria àqueles que o temem e a eles revelou assuntos profundos e ocultos”.

 

(texto anônimo medieval, tradução de Adriano Scandolara via tradução inglesa de Norman Bronznick)

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